Campo Grande (MS), Domingo, 14 de Dezembro de 2025

Política / Eleições 2026

Ao desejar “boa sorte” a Flávio, Kassab afasta Tarcísio do rótulo de candidato de Bolsonaro

Recuo de Trump na Lei Magnitsky isola o bolsonarismo, fortalece o Centrão e redesenha a disputa presidencial de 2026

14/12/2025

07:00

DA REDAÇÃO

©DIVULGAÇÃO

O recuo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao retirar a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviane, provocou efeitos políticos imediatos no Brasil. O gesto, agradecido publicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acabou produzindo um vencedor provisório: o Centrão. No tabuleiro da sucessão presidencial, o movimento também acentuou o isolamento do bolsonarismo e abriu espaço para uma reconfiguração estratégica da direita.

O sinal mais claro veio de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD e uma das principais lideranças do Centrão. Na véspera do anúncio de Trump, Kassab desejou apenas um protocolar “boa sorte” ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que se apresenta como pré-candidato à Presidência, ao mesmo tempo em que reforçou apoio ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Kassab ainda citou Ratinho Júnior (PSD-PR) e Eduardo Leite (PSDB-RS) como alternativas, evidenciando um plano escalonado fora do eixo bolsonarista.

Mensagem cifrada do Centrão

O “boa sorte” dirigido a Flávio Bolsonaro soou, nos bastidores, como um recado direto: Centrão de um lado, Bolsonaros de outro. A tentativa do senador de minimizar o gesto, afirmando que não haverá “intriga” entre ele e Tarcísio, esbarra em um dado objetivo: os dois hoje disputam o mesmo espaço político. Com uma diferença central — cresce a percepção de que Tarcísio é candidato viável, enquanto a candidatura de Flávio segue cercada de dúvidas.

Em poucos dias, Flávio oscilou entre lançar-se candidato, admitir a possibilidade de desistência, negociar com o Centrão uma redução significativa das penas impostas a Jair Bolsonaro e, por fim, declarar sua candidatura “irreversível”. O saldo concreto, até aqui, foi ganhar tempo e manter o sobrenome Bolsonaro em circulação no debate público.

Mercado e Congresso já escolheram

Nesse curto período de exposição, Flávio pôde perceber que lideranças do mercado financeiro e dirigentes partidários do Centrão demonstram entusiasmo não por ele, mas por Tarcísio de Freitas. Kassab apenas tornou público o que Bolsa, câmbio e Congresso já vinham sinalizando.

Enquanto Flávio desfila como candidato, Kassab explicita a posição do Centrão, os três Poderes mantêm conflitos abertos, Lula utiliza a visibilidade do cargo para reforçar sua posição eleitoral, Hugo Motta enfrenta desgaste político e Davi Alcolumbre amplia seu protagonismo no Senado. Tarcísio, por sua vez, mantém-se em silêncio estratégico, focado na gestão paulista e nos problemas sucessivos envolvendo a Enel. Um recolhimento que muitos já classificam como retiro eleitoral.

Blindagem contra o desgaste bolsonarista

O lançamento da pré-candidatura de Flávio e o ruído entre ele e Tarcísio acabam beneficiando o governador paulista. O cenário o protege da principal armadilha de Lula: transformá-lo no herdeiro direto da alta rejeição de Jair Bolsonaro.

A estratégia é clara. Lula tenta empurrar Tarcísio para o colo de Bolsonaro; Tarcísio sinaliza proximidade, mas evita o compromisso definitivo. Com Flávio posicionado como “candidato de Bolsonaro”, o governador passa a disputar não apenas o eleitorado bolsonarista, mas também os votos órfãos do centro e, sobretudo, do Centrão, que já exerce forte controle sobre o Congresso e avalia que chegou a hora de disputar o comando do Planalto.

O dilema da direita

O resultado é uma direita fragmentada, na qual Tarcísio surge como o nome mais competitivo tanto contra os Bolsonaro quanto contra Lula, mas preso a um dilema clássico: aproximar-se demais de Bolsonaro significa herdar sua rejeição, hoje maior do que em 2022; afastar-se pode render o rótulo de candidato do Centrão, associado às emendas, ao “toma-lá-dá-cá” e a um Congresso amplamente criticado pela opinião pública.

O antilulismo foi suficiente para eleger Bolsonaro em 2018. A grande incógnita agora é saber se esse sentimento bastará para levar ao Planalto um candidato que não carrega o selo do antissistema e oscila entre o bolsonarismo e o Centrão.

No centro desse impasse está o verdadeiro nó da direita: não apenas quem será o candidato, mas qual estratégia será capaz de derrotar o favorito Lula em um cenário de racha interno, reposicionamento internacional e fortalecimento explícito do Centrão.


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