A Feira da Chácara dos Poderes voltou a movimentar a região nesta sexta-feira (28), após quatro anos de interrupção. O evento, que nasceu em 2020 e foi suspenso durante a pandemia e as obras de urbanização, retorna com um diferencial central: apenas moradores que produzem no próprio bairro podem expor seus produtos.

A iniciativa reúne artesãos, culinaristas, horticultores e criadores que transformam quintais, chácaras e pequenos espaços em áreas de produção. Cada item vendido na feira carrega forte identidade local e mantém relação direta com a paisagem natural que caracteriza a região.

Segundo Breno Benetti, um dos organizadores, o pedido para o retorno partiu da própria comunidade. “A comunidade começou a pedir o retorno, principalmente os produtores locais. Aqui tem muita gente que participa das grandes feiras da cidade, mas eles queriam algo com a cara do bairro”, afirma. Ele destaca que a curadoria prioriza autenticidade: “A gente teve o cuidado de montar uma curadoria assim, de morar no bairro e produzir no bairro.”

Com cerca de 2 mil moradores distribuídos em chácaras afastadas umas das outras, a feira também funciona como um importante ponto de encontro. No primeiro dia, 15 expositores participaram, mas já são 30 cadastrados para as próximas edições.

A diversidade de produtos chamou atenção. O público encontrou saltenhas tradicionais e veganas, pães artesanais, bolos, espetinhos, verduras e ervas cultivadas pelos próprios moradores, cogumelos produzidos na Chácara, plantas e mudas nativas do Cerrado, crochê, bonecas de costura criativa, doces caseiros e até culinária afetiva de Okinawa, além de uma apresentação circense.

Entre os destaques da gastronomia local, Tereza Chaves, moradora há seis anos, apresentou receitas que misturam referências do Pantanal, Cerrado e Bolívia. “Eu me especializei em comidas latinas. Quando me mudei pra cá, procurei ingredientes da região e também insumos que encontro na fronteira”, explica. Entre os produtos, ofereceu saltenha tradicional, saltenha de jaca e trouxinhas de shimeji com abobrinha flambada no saquê. Em sua banca, chamou atenção a tcha-tchairu, fruta típica boliviana ainda desconhecida por muitos moradores.

Já Berê Maria, moradora há 22 anos, levou docinhos caseiros como beijinho, prestígio, brigadeiro e creme belga. Ela começou a produzir por encomenda há dois anos e agora encontrou uma nova oportunidade com a feira. “Isso aqui é uma maravilha para o pessoal se desenvolver, mostrar o trabalho”, avalia. “Às vezes a gente está só em casa, posta nos grupos. Aqui vai ser mais interessante.”

A artesã Silvana Alves, moradora da região há sete anos, expôs peças de crochê e relatou que o trabalho manual mudou sua vida. “O artesanato me tirou da depressão. Fui evoluindo, aprendendo, fazendo cursos e agora estou aqui com as minhas peças expostas. Isso é muito bacana.”

Para a organização, o evento reforça o estilo de vida da Chácara dos Poderes. “A gente quer mostrar o estilo de vida da Chácara, que é viver em harmonia com a natureza”, resume Breno.

A Feira da Chácara dos Poderes será realizada quinzenalmente, sempre nas segundas e quartas sextas-feiras do mês, na Estrada NE 1, no antigo bolicho da curva.