Cultura
Especialistas celebram Manoel de Barros e ressaltam a atualidade poética do mestre pantaneiro
Onze anos após sua partida, escritores e pesquisadores se reúnem na UNIRIO para discutir o legado do autor que reinventou a linguagem brasileira
13/11/2025
14:15
DA REDAÇÃO
Especialistas debatem Manoel de Barros a partir do auditório da Universidade do Rio (UNIRIO).
Onze anos depois da morte de Manoel de Barros, um dos maiores poetas da literatura brasileira, intelectuais de várias universidades do país se reuniram no Auditório Paulo Freire da UNIRIO para celebrar sua obra e refletir sobre a força de sua poesia. O encontro, com mais de oito horas de programação e cerca de 200 participantes, foi transmitido ao vivo e reuniu especialistas da UFRJ, UNIRIO, USP, UFGD e Universidade do Pampa.
Organizado pelo professor Elton Luiz Leite de Souza — um dos principais estudiosos da obra do poeta — o evento contou com a participação de nomes ligados ao universo manorelino, entre eles o jornalista e escritor Bosco Martins, autor de Diálogos do Ócio (Editora UFMS), e as gestoras do Museu Casa-Quintal Manoel de Barros, Valéria Arruda e Raylla Mirela, que representaram Mato Grosso do Sul.
Ao abrir o encontro, Elton destacou a “potência do pensamento e a simplicidade erudita” do poeta, citando o verso “Na ponta do meu lápis só tem nascimento” como síntese estética de Manoel. Ele classificou o livro Diálogos do Ócio, de Bosco Martins, como “fundamental e o estudo mais revelador sobre o universo poético de Manoel”.

Um dos momentos mais emocionantes foi a leitura, por Bosco Martins, de um trecho do capítulo “Nequinho”, que retrata a relação do poeta com a esposa Stella Barros, companheira ao longo de mais de seis décadas.
“Stella foi o esteio, a crítica e a inspiração do poeta — a mulher que lhe deu chão e asas”, afirmou o escritor, ovacionado pelo público.
Valéria Arruda reforçou a importância da guardiã da memória do poeta:
“Manoel só podia ser livre porque Stella lhe dava esse espaço. Eles se amavam em respeito e admiração mútua.”

Especialistas analisaram a originalidade da obra de Manoel de Barros, cuja poesia “desaparece para revelar o essencial”. Para o professor Écio Pisetta,
“sua poesia rejeita o lugar comum e busca o desaprender como forma de sabedoria.”
O professor Marcos Aurélio Marques ressaltou que Manoel foi capaz de “lançar luz sobre as coisas que não vemos — o Pantanal, a Amazônia, as miudezas do mundo”.
Em diversas falas, o poeta foi lembrado por transformar a infância em um estado permanente de liberdade, simbolizado em frases como:
“Liberdade a gente aprende com as crianças.”
Na avaliação do professor Nilton dos Anjos,
“ler Manoel é um santo remédio — e sua dependência não causa nenhum dano.”
O evento encerrou com uma lembrança carinhosa de Elton Leite sobre o modo simples e afetuoso com que o poeta gostava de se comunicar.
“Manoel não atendia telefone nem gostava de cartas datilografadas. Queria o gesto humano, o toque da palavra viva.”
Entre emoção, memórias e reflexões, a homenagem reafirmou a permanência de Manoel de Barros na cultura brasileira. Ele continua vivo em seus neologismos, em sua filosofia do “criançamento” e na arte de desinventar o mundo para compreendê-lo melhor.
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