Campo Grande (MS), Quarta-feira, 22 de Outubro de 2025

Saúde

Outubro Verde: mitos e verdades sobre a sífilis

O Brasil chegou a mais de 1,5 milhão de casos de sífilis adquirida registrados entre 2010 e junho de 2024

22/10/2025

12:30

Dr. Alberto Chebabo

©DIVULGAÇÃO

A sífilis, uma infecção sexualmente transmissível (IST) que há séculos desafia a saúde pública e ainda hoje é cercada por desinformação e estigma. Neste Outubro Verde, mês de conscientização e combate à sífilis no Brasil, é crucial se informar desmistificando temas em torno desta doença e munir profissionais e a população com conhecimento para um enfrentamento eficaz. Apesar dos avanços na medicina, a sífilis continua a apresentar números preocupantes no País.

O cenário da sífilis no Brasil configura um grave e persistente desafio de saúde pública, com um total de 1.538.525 de casos de sífilis adquirida registrados entre 2010 e junho de 2024, atingindo em 2023 a maior taxa da série histórica, com 113,8 casos por 100 mil habitantes. O problema se estende de forma crítica à saúde materno-infantil, onde a sífilis em gestantes acumulou 713.167 casos desde 2005. O resultado direto da falha na prevenção e tratamento materno é a sífilis congênita, que registrou 344.978 casos em menores de um ano desde 1999. Em 2023, o país atingiu um coeficiente de mortalidade de 7,7 óbitos por 100 mil nascidos vivos, evidenciando que a doença continua a ter um impacto devastador e inaceitável na vida dos bebês brasileiros.

A sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum e, se não tratada, pode evoluir para estágios graves, afetando o sistema nervoso e outros órgãos. É conhecida como a "grande imitadora" devido à sua capacidade de apresentar sintomas variados ou até mesmo ausentes, levando muitos a negligenciarem a infecção.

Para esclarecer as dúvidas mais comuns e combater a desinformação, convidamos o Dr. Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e especialista em Doenças Infecciosas, que respondeu as principais dúvidas sobre a doença.

1. A sífilis é transmitida apenas por meio de múltiplos parceiros ou sexo desprotegido?

Mito. Embora a prática sexual desprotegida e com múltiplos parceiros aumente o risco, basta uma única exposição sexual (vaginal, anal ou oral) com uma pessoa infectada para a transmissão ocorrer. A sífilis também pode ser transmitida da mãe para o bebê durante a gravidez ou o parto, e em casos raros, por transfusão de sangue ou contato direto com lesões ativas, conhecidas como cancro duro.

O acesso ao diagnóstico e tratamento é fundamental, e nesse contexto, a ampliação de métodos de detecção com testes que oferecem alta precisão é crucial para identificar a presença de anticorpos da sífilis no sangue, permitindo um diagnóstico rápido e o início do tratamento adequado, especialmente importante em contextos de triagem e no pré-natal. 

2. Se o cancro duro (a ferida inicial) sumir sozinho, estou curado?

Mito. Aliás, é um dos mitos mais perigosos. Na fase primária, a ferida é geralmente indolor e desaparece espontaneamente em algumas semanas. Mas o desaparecimento da lesão NÃO significa cura. A bactéria continua ativa e a doença progride para fases mais avançadas (secundária e latente), que podem demorar anos para manifestar complicações graves, como as neurológicas.

3. Posso contrair sífilis novamente mesmo após ter sido tratado?

Verdade. Não existe imunidade permanente contra a sífilis. O tratamento cura a infecção atual, mas a pessoa pode ser reinfectada várias vezes ao longo da vida se for exposta novamente à bactéria. Por isso, a prevenção contínua com o uso de preservativos é fundamental, mesmo após o tratamento.

4. A sífilis é uma doença difícil de diagnosticar?

Mito. Devido à sua capacidade de imitar outras doenças (a "grande imitadora") e de passar por uma fase latente (sem sintomas), a sífilis pode ser um desafio clínico. Contudo, o diagnóstico é muito acessível e eficaz hoje. A testagem de anticorpos, especialmente em larga escala em laboratórios e hospitais, permite identificar com alta precisão a presença da infecção, garantindo um resultado rápido e confiável para iniciar o manejo da doença. Vale reforçar a importância da triagem para que, mesmo na ausência de sintomas, a infecção seja detectada.

5. O tratamento da sífilis é simples e eficaz?

Verdade. Felizmente, a sífilis tem cura, e o tratamento padrão, especialmente se diagnosticado nas fases iniciais, é com a penicilina benzatina, um antibiótico acessível e altamente eficaz. O fundamental é que o paciente siga rigorosamente a dosagem e o esquema de tratamento indicado pelo médico e realize os exames de acompanhamento, pois a cura exige monitoramento.

6. Se a gestante estiver com sífilis, o bebê sempre terá sequelas graves?

Mito. Não é sempre, mas o risco é altíssimo. A sífilis não tratada na gestação é uma ameaça gravíssima, podendo levar a consequências devastadoras para o bebê, como aborto espontâneo, natimorto, prematuridade, baixo peso ao nascer, surdez, cegueira, problemas neurológicos graves e até a morte neonatal. Contudo, o tratamento da gestante com penicilina é a única e mais eficaz forma de prevenir a sífilis congênita e deve ser iniciado o mais rápido possível no pré-natal. Por essa razão, a testagem no pré-natal precisa ser rápida e integrada, utilizando plataformas que permitem a realização de múltiplos exames, como sífilis e HIV, simultaneamente e com agilidade para evitar a progressão da doença..

“A informação, aliada à disponibilidade de ferramentas diagnósticas precisas, salva vidas e é a ferramenta mais poderosa para enfrentarmos essa doença e protegermos a saúde da população. É hora de falar abertamente sobre sífilis, combater o estigma e garantir que cada indivíduo tenha acesso ao conhecimento e ao cuidado que merece”, completa Dr. Chebabo.

 


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