Campo Grande (MS), Segunda-feira, 13 de Outubro de 2025

Política

Lula exonera indicados do Centrão após derrota no Congresso, mas preserva afilhados de Arthur Lira

Demissões atingem aliados de PP, PSD, União Brasil e MDB; Planalto fala em fidelidade mirando 2026 e deputados ameaçam reagir com “pautas-bomba”

13/10/2025

20:00

DA REDAÇÃO

©DIVULGAÇÃO

Após a derrubada da medida provisória (MP) que previa a substituição do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou uma série de exonerações de indicados do Centrão em cargos estratégicos do segundo escalão. As demissões, publicadas entre sexta (10) e segunda-feira (13), foram vistas como retaliação política ao grupo de parlamentares que votou contra o governo.

Os cortes atingiram nomes ligados ao PP, PSD, União Brasil e MDB, mas preservaram aliados diretos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que não participou da votação. Segundo o Palácio do Planalto, a decisão representa uma “linha de corte” para separar quem está efetivamente comprometido com o governo e quem apenas ocupa espaços no Executivo sem oferecer sustentação política.

Cargos e órgãos afetados

As exonerações atingiram postos estratégicos em diferentes órgãos e empresas públicas:

  • Caixa Econômica Federal;

  • Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba);

  • Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional);

  • Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes);

  • Superintendências regionais do Ministério da Agricultura.

Entre os exonerados estão Lena Carolina Brandão, irmã do líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas Fernandes (MA), que chefiava o Iphan no Maranhão; e Harley Xavier Nascimento, indicado pelo deputado Arthur Maia (União-BA), que comandava a Codevasf em Bom Jesus da Lapa.

Também foram dispensados José Trabulo Júnior, consultor ligado ao senador Ciro Nogueira (PP-PI), e Paulo Rodrigo de Lemos Lopes, vice-presidente de Sustentabilidade da Caixa e ligado ao PL. No Dnit de Roraima, saiu Igo Gomes Brasil, indicado pela deputada Helena Lima (MDB-RR).

No Ministério da Agricultura, quatro superintendentes — Everton Ferreira (MG), Wellington Sousa (MA), Juliana Bianchini (PR) e Jesus Nazareno de Sena (PA) — também foram afastados.

Reação do Centrão

As demissões geraram insatisfação entre parlamentares do Centrão e acirraram os ânimos na Câmara. Um líder do grupo classificou a decisão como “incoerente”, afirmando que o governo “bate em aliados num Congresso já arredio”.

“Não é só a votação que faz aliados. Se o governo acha que não precisa mais da gente, beleza. Mas esquecem que a Câmara tem poder para pautar o que quiser”, disse um deputado, em referência a possíveis “pautas-bomba” — projetos de alto impacto fiscal, como reajustes salariais e alterações previdenciárias.

Na semana passada, o Plenário já havia aprovado uma PEC que amplia benefícios previdenciários para agentes de saúde, gerando impacto bilionário às contas públicas.

Alvos políticos e cálculo eleitoral

Segundo interlocutores do Planalto, o presidente Lula decidiu agir após recomendações da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, que defendeu um “pente-fino” nas nomeações. O objetivo seria restabelecer a disciplina partidária e preparar o terreno para 2026, reduzindo a dependência de apoios voláteis.

“A votação da MP mostrou quem está com o governo e quem não está. Esse é o divisor de águas que orientará a base até 2026”, afirmou um assessor presidencial.

O entendimento no Planalto é que o PSD e o União Brasil foram os principais responsáveis pela derrota — o primeiro por ter se dividido (20 votos a favor e 18 contra), e o segundo por retirar-se formalmente da base.

Mesmo assim, a ala política de Lula afirma que “a porta continua aberta” para parlamentares que voltarem a votar com o governo.

O que estava em jogo

A medida provisória derrubada pela Câmara pretendia recompor parte da arrecadação federal após o corte do IOF sobre operações financeiras. A derrota foi expressiva: 251 votos contra o governo e não análise do mérito antes do prazo final, o que resultou na caducidade automática da MP.

Apesar da derrota, a Casa Civil minimizou o impacto orçamentário e ressaltou que o gesto de Lula foi “mais político que fiscal”, mirando a fidelidade e a reorganização da base.

Frases que marcaram o episódio

  • Celso Sabino (União Brasil, ministro do Turismo): “Não dá pra ser casado e ter vida de solteiro.”

  • Deputado do Centrão (anonimamente): “Se o governo acha que pode governar só com o Senado e o STF, está enganado.”

  • Integrante do Planalto: “Lula decidiu testar a base — quem for leal, fica; quem não for, sai.”


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