Chefe da Casa Civil disse que presidente pediu mobilização de ministros. Dilma reuniu 23 ministros, um dia após abertura de processo de impeachment.
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ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner e presidente Dilma - Foto: Lula Marques/Agência PT |
O ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, afirmou nesta quinta-feira (3) que a presidente Dilma Rousseff está "com muita pressa" para resolver a questão do impeachment. Segundo ele, em reunião com ministros no Palácio do Planalto, a presidente tentou mobilizar os membros do primeiro escalão na defesa do governo no processo de impedimento autorizado nesta quarta pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A decisão de abrir o processo de impeachment foi anunciada por Cunha com base no pedido de afastamento que destaca a edição de decretos neste ano que autorizaram despesas sem autorização do Congresso, além de procedimentos conhecidos como "pedaladas fiscais" – atrasos de repasses do Tesouro para bancos públicos.
"Ela [Dilma], como sempre, reage extremamente bem sempre que é posto um desafio à frente dela. Ela conduziu a reunião, está com muita disposição, muita energia, e está com pressa. E a pressa dela é a pressa da preocupação, não exclusivamente com o governo, mas também com o país. Precisamos vencer essa pré-pauta para que a gente possa entrar na pauta do desenvolvimento", disse.
Wagner explicou que a “pressa” da presidente se dá porque ela acha que “não tem que ficar arrastando esse processo que introduz um elemento de instabilidade”.
A entrevista coletiva concedida pelo ministro ocorreu logo após a reunião da presidente com ministros. "Foi uma reunião para socializar compreensão de todos sobre esse episódio e mobilizar todos os ministros com seus partidos, bases sociais. Pedimos a todos os ministros que verbalizassem o máximo possível o nosso ponto de vista, nosso entendimento", disse Wagner.
O chefe da Casa Civil também destacou que, no entendimento do governo, o pedido de impeachment acolhido por Eduardo Cunha “não tem nenhum lastro” e que as denúncias que o embasaram não se enquadram no crime de responsabilidade. “Então, nós não abrimos mão do respeito ao texto constitucional”, disse.
Grupo de ministros
De acordo com Wagner, na reunião desta quinta ficou decidido que ele será responsável por coordenar um grupo de ministros que deverá acompanhar “cotidianamente” os desdobramentos do processo de impeachment. Segundo ele, a presidente Dilma se reunirá ao longo da próxima semana com governadores pró e contra o governo para tentar barrar o impeachment.
Na avaliação de Wagner, já existe, inclusive, “forte” movimentação nas redes sociais e por parte das centrais sindicais e movimentos sociais para defender o mandato da presidente Dilma.
O ministro também disse querer que a situação se resolva "o mais rápido possível". "Nossa decisão é fazer o processo o mais rápido possível. Só que siso não pode implicar em a gente não disputar no Judiciário aquilo que a gente entende que pode lesar nosso direito de defesa", declarou.
Eduardo Cunha
Jaques Wagner dedicou parte da entrevista a responder perguntas sobre o comportamento do presidente da Câmara. Mesmo dizendo que não quer “bate-boca” com Cunha, o ministro-chefe da Casa Civil avaliou que o peemedebista pode “banalizar” o processo de impeachment.
“Se a moda pega, vai começar a banalizar um instrumento que é tão nobre e tão excepcional como é o instrumento do impedimento. Até porque, se uma eventual ou passageira impopularidade for motivo para sacar alguém que tem mandato com prazo marcado, aí nós vamos entrar realmente numa democracia que eu prefiro nem adjetivar, uma democracia muito fragilizada”, afirmou.
“Mas não é do interesse da presidenta Dilma e, portanto, também não é de meu interesse, nenhum tipo de bate-boca com o presidente Eduardo Cunha. Eu já disse isso, ele falou uma mentira e, apesar de não querer bater-boca, não poderia deixar em branco uma acusação sobre a presidenta da República”, acrescentou.
Pela manhã, Eduardo Cunha disse que a presidente Dilma mentiu à nação quando disse que não faria barganha sobre o caso dele no Conselho de Ética. De acordo com o peemedebista, Dilma chamou o deputado André Moura (PSC-SE), um dos aliados presidente da Câmara, para propor que, em troca da aprovação da CPMF, o PT votasse a favor de Cunha no Conselho de Ética.
Pouco mais de uma hora depois, em uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto, Jaques Wagner rebateu Cunha e disse que ele "mentiu" ao dizer que o deputado do PSC foi levado pelo ministro para uma reunião com a chefe do Executivo.
Recesso legislativo
Wagner também foi perguntado se o governo defende que não haja recesso parlamentar no Congresso Nacional para que o processo de impeachment não seja interrompido nas férias dos deputados e senadores. Aos jornalistas, Wagner disse que ainda não há decisão sobre o assunto.
“Ela [Dilma], realmente, quer apressar isso [o processo], porque não interessa ficar esticando isso. Agora, primeiro precisa saber do presidente Renan e do presidente da Câmara qual é a decisão deles. […] Mas, reparem, aberto o processo, não me parece razoável que o parlamento se desligue. Já que se abriu o processo, é meio estranho que haja férias. Não dá.”, declarou.
Do G1, em Brasília
Por: Filipe Matoso
Link original: http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2015/12/dilma-quer-mobilizacao-de-ministros-para-defender-governo-diz-wagner.html