Política / Estratégia Nacional
“Bolsonaro precisa dizer que não será candidato para unificar a direita”, afirma Tereza Cristina
Senadora defende maturidade na oposição, analisa cenário eleitoral de 2026, fala sobre CPMI do INSS, crise no agro, rota bioceânica e regularização de terras na fronteira
21/10/2025
10:45
DA REDAÇÃO
©ARQUIVO
A senadora Tereza Cristina (PP-MS), líder da Federação UBP (União Brasil, PP e Republicanos) em Mato Grosso do Sul, fez uma avaliação franca sobre o cenário político nacional e estadual durante entrevista concedida ao PodCast de Tião Prado e Dora Nunes, transmitido pela Rádio Cerro Corá 91,5 FM. A parlamentar defendeu que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) precisa anunciar oficialmente que não será candidato em 2026, para permitir à direita construir uma candidatura unificada e viável.
“O que realmente precisa acontecer é o presidente Bolsonaro dizer que não será candidato. Assim, ele poderá orientar a estratégia e definir qual nome terá apoio, dando força e unidade à direita. As pessoas respeitam sua liderança, e isso dará direção ao grupo”, afirmou.
Tereza Cristina avalia que a oposição deve agir com maturidade e definir um nome competitivo até dezembro, evitando a fragmentação do campo de centro-direita. Ela citou Tarcísio de Freitas (SP), Ratinho Júnior (PR) e Ronaldo Caiado (GO) como nomes fortes, mas ponderou que “não basta ter intenção, é preciso ter viabilidade e projeto de governo”.
“A oposição não vai deixar o presidente Lula disputar sozinho. Temos bons quadros, mas precisamos saber quem tem chance real de vencer. O país precisa de alguém que traga um plano de governo claro e reformas consistentes.”
Questionada sobre uma possível candidatura de Michelle Bolsonaro, Tereza preferiu não avaliar nomes individuais, reiterando que “o Brasil precisa de liderança e projeto”.
Cotada por aliados para compor uma chapa presidencial como vice, Tereza Cristina afirmou não descartar a possibilidade.
“Eu nunca serei candidata a vice, porque vice é escolhido. Mas, se o candidato quiser alguém de centro, mulher, ou de outro partido, e eu puder contribuir, estarei pronta. Tudo é possível”, disse, acrescentando:
“Quero ver o Brasil avançar. Somos um país que adora perder oportunidades — e eu quero ajudar a aproveitá-las.”
No cenário estadual, Tereza reconhece que a disputa por duas vagas ao Senado em 2026 deve ser acirrada, especialmente se a ministra Simone Tebet (MDB) confirmar sua candidatura.
“Se a Simone entrar na disputa pelo Senado, vai haver acirramento entre direita e esquerda. O PT tem cerca de 20% de apoio no Estado, e Lula chegou a 40% dos votos em 2022. Isso mostra que a eleição será duríssima”, alertou.
Aliada do governador Eduardo Riedel (PP), Tereza reafirmou o apoio ao governo e defendeu a união da direita para evitar divisões internas.
“Se quisermos eleger dois senadores do centro-direita, precisamos de transferência de votos e diálogo. O grande desafio é evitar o racha, com paciência e articulação”, afirmou.
Ela também comentou sobre Reinaldo Azambuja (PSDB) e Capitão Contar (PRTB), apontando que ambos são nomes fortes e podem compor o mesmo campo político.
A senadora foi incisiva ao criticar o comportamento do governo federal nas investigações da CPMI do INSS, que apura um esquema bilionário de fraudes em descontos de aposentados e pensionistas.
“O governo está blindando quem não quer prestar esclarecimentos. A maioria dos convocados chega com habeas corpus. Estamos falando de um escândalo que já soma R$ 6 bilhões. Quem paga essa conta é o contribuinte”, denunciou.
Tereza confirmou que a comissão apura indícios de envolvimento de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Lula, com o Instituto envolvido nas irregularidades.
“Ele é vice-presidente da entidade. Teoricamente, tinha que saber o que estava acontecendo. É impossível não perceber R$ 300 milhões passando por uma conta. As investigações estão mostrando que o esquema dobrou de tamanho após 2023.”
Tereza Cristina também alertou para o crescimento das recuperações judiciais no agronegócio, fenômeno que considera preocupante.
“Há produtores que perderam safras, enfrentam juros altíssimos e recorrem à Justiça, mas há também recuperações fraudulentas, o que prejudica a credibilidade do setor”, afirmou.
A senadora defendeu crédito privado para grandes produtores e apoio estatal aos pequenos e médios, além de maior transparência nos pedidos de recuperação.
“A inadimplência cresceu em vários bancos, e estamos solicitando dados ao Banco Central para dimensionar o problema.”
Tereza Cristina também relatou avanços no projeto de regularização das terras na faixa de fronteira, cujo relatório foi aprovado na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
“Temos 35.923 propriedades em 45 municípios que precisam ratificar títulos até 20 de novembro. São terras ocupadas há décadas. O projeto não favorece grileiros; apenas garante segurança jurídica a quem tem posse legítima”, explicou.
Segundo a senadora, o texto amplia o prazo de regularização em cinco anos e assegura que INCRA e Funai mantenham poder de fiscalização sobre eventuais conflitos ou sobreposições.
A ex-ministra da Agricultura destacou dois projetos estratégicos para Mato Grosso do Sul: a fábrica de fertilizantes de Três Lagoas e a rota bioceânica, que liga o Estado ao Chile, passando por Paraguai e Argentina.
“A fábrica de Três Lagoas está com mais de 80% das obras prontas e já consumiu R$ 2 bilhões. É estratégica para o país, que importa 90% dos fertilizantes nitrogenados. Falta decisão política para concluir a obra”, afirmou.
Sobre a rota bioceânica, Tereza confirmou o avanço das obras da ponte sobre o Rio Paraguai e destacou o potencial de integração regional.
“A ponte deve ficar pronta no próximo ano. Será um ganho logístico e turístico. Precisamos agora de uma aduana moderna e menos burocrática. O projeto vai aproximar Mato Grosso do Sul do Pacífico e dos mercados asiáticos”, avaliou.
Com experiência no Executivo e no Senado, Tereza Cristina consolida-se como uma das principais articuladoras da direita moderada no Brasil. Sua análise realista do cenário político e econômico reforça a importância do diálogo e da coordenação nacional, tanto para enfrentar a crise institucional quanto para preparar o caminho da oposição em 2026.
“O Brasil precisa parar de perder oportunidades. União, projeto e viabilidade: é isso que vai definir o futuro da direita e do país”, concluiu.
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