A utilização da semaglutida, popularmente conhecida pelos nomes comerciais Ozempic e Wegovy, tem ganhado destaque nos últimos anos por sua eficácia no tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade. No entanto, especialistas alertam que o uso do medicamento pode, de forma indireta, levar a problemas como déficit nutricional, déficit proteico e perda de massa magra, especialmente se o paciente não seguir uma dieta equilibrada e praticar atividades físicas regularmente.

Entenda o funcionamento da semaglutida

A semaglutida age como um análogo do hormônio GLP-1, que regula a sensação de saciedade e apetite, ajudando na redução do consumo calórico. Embora tenha sido originalmente desenvolvida para o tratamento de diabetes tipo 2, a substância demonstrou grande eficácia no controle de peso, o que levou à sua utilização também no tratamento da obesidade, especialmente na versão comercializada como Wegovy.

Essa redução de apetite pode causar uma diminuição significativa na ingestão de alimentos, o que pode resultar em déficit nutricional se não houver uma compensação adequada com alimentos ricos em proteínas, vitaminas e nutrientes.

Perda de massa magra: um risco a ser considerado

Um dos principais problemas relatados em pacientes que utilizam a semaglutida, principalmente em tratamentos de emagrecimento, é a perda de massa magra – que é composta por músculos e tecidos livres de gordura. A perda de massa magra ocorre naturalmente com o envelhecimento, mas em pacientes que passam por uma redução drástica de peso, essa perda pode ser acelerada.

Segundo o médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), essa perda pode comprometer a saúde a longo prazo, já que a massa magra é essencial para a força muscular, o metabolismo e a qualidade de vida. “Estudos mostram que a perda significativa de massa magra pode aumentar o risco de mortalidade e reduzir a expectativa de vida", ressalta o especialista.

Outros efeitos: déficit de nutrientes e proteínas

O déficit nutricional, outro risco associado ao uso de Ozempic, pode ocorrer quando a pessoa não consome alimentos ricos em vitaminas e proteínas suficientes para atender às necessidades do corpo. Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), destaca que o problema não é causado diretamente pelo medicamento, mas pela redução de calorias, o que pode acontecer com qualquer dieta restritiva. “Se a pessoa usa o medicamento e não tem uma preocupação específica com o consumo de proteína, vitaminas e nutrientes, pode acabar desenvolvendo deficiências”, explica.

Esses déficits podem se manifestar em sintomas como queda de cabelo, unhas frágeis, cansaço e diminuição da força muscular. Fabio Moura, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), orienta que qualquer alteração no organismo, como perda de força muscular ou outros sinais de carência nutricional, deve ser relatada imediatamente ao médico.

A importância de acompanhamento profissional e hábitos saudáveis

Tanto a Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, quanto os especialistas consultados ressaltam que o acompanhamento médico é essencial durante o uso do medicamento. A empresa recomenda que os pacientes sigam orientações de uma dieta equilibrada e atividades físicas para garantir um tratamento seguro e eficaz.

A adoção de suplementos alimentares ricos em nutrientes e proteínas pode ser uma alternativa para aqueles que não conseguem atingir os níveis ideais de nutrientes apenas pela alimentação, mas os profissionais de saúde sugerem que a preferência deve ser por alimentos minimamente processados.

Para pessoas que utilizam a semaglutida sem um diagnóstico clínico de obesidade, a atenção deve ser redobrada. "A perda de massa muscular tende a ser mais significativa em pessoas que iniciam o tratamento com menos peso, o que aumenta os riscos de complicações", alerta Halpern.

Benefícios superam os riscos com o uso correto

Apesar dos riscos associados, os especialistas concordam que, quando usado corretamente e com supervisão médica, os benefícios do Ozempic para o tratamento de obesidade e diabetes tipo 2 superam as possíveis complicações. O controle do apetite e a perda de peso proporcionados pela semaglutida têm sido uma ferramenta valiosa para quem enfrenta dificuldades significativas com o peso e condições relacionadas à obesidade.

Contudo, a adoção de hábitos saudáveis, como uma dieta rica em nutrientes e a prática regular de exercícios, é fundamental para garantir que os resultados sejam sustentáveis e seguros a longo prazo.

Conclusão

Embora o uso de semaglutida tenha mostrado ser uma solução eficaz para controle de diabetes e obesidade, seu uso sem os devidos cuidados e acompanhamento pode levar a complicações, como déficit nutricional e perda de massa magra. Assim, é essencial que os pacientes que utilizam o medicamento sigam orientações nutricionais e mantenham-se em contato constante com profissionais de saúde para evitar problemas associados à falta de nutrientes e à perda de musculatura, assegurando que os benefícios do tratamento superem os riscos.