Análise Política
Família Bolsonaro se queima com tarifaço que pretendia usar contra Lula e o STF
Estratégia da extrema-direita com apoio de Trump sai pela culatra e atinge diretamente o próprio bolsonarismo
10/07/2025
22:00
DA REDAÇÃO
©REPRODUÇÃO
A tentativa da extrema-direita de transformar o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump contra exportações brasileiras em munição política contra Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Alexandre de Moraes saiu pela culatra. O articulador da investida, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acabou expondo ainda mais seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, ao associar diretamente o clã à retaliação comercial americana.
O plano bolsonarista era simples: desgastar Lula e o STF junto ao empresariado e à opinião pública, atribuindo ao governo e ao Judiciário a culpa pelas represálias econômicas dos EUA. A meta era transformar o revés tarifário em vitrine política e reapresentar Bolsonaro como vítima de perseguição e defensor da democracia.
No entanto, a operação careceu de lógica política e calculou mal a reação popular. O vínculo entre a ação de Trump e o bolsonarismo se tornou evidente demais para ser disfarçado: foi Eduardo Bolsonaro quem atuou diretamente junto à ala trumpista americana, em articulações que remontam à tentativa frustrada de reabilitação do pai no cenário político global.
Eduardo Bolsonaro viajou diversas vezes aos EUA para buscar apoio de Trump e setores ultraconservadores;
O objetivo era pressionar Lula e o STF com consequências econômicas externas e gerar instabilidade;
O anúncio de Trump, contudo, mencionou diretamente o STF e a eleição de 2022, revelando o caráter político da ação;
A repercussão internacional destacou a instrumentalização da política comercial americana para fins ideológicos.
Ao se alinhar abertamente a uma retaliação contra o próprio país, a família Bolsonaro se colocou como cúmplice de medidas que prejudicam a economia nacional. A reação de setores produtivos, que esperavam equilíbrio e previsibilidade, foi de estranhamento. Em vez de fragilizar o governo Lula, a iniciativa acabou expondo a irresponsabilidade da extrema-direita em usar a diplomacia como arma de guerra política interna.
A aposta arriscada na tutela de Trump também reforça a conexão entre os episódios de Brasília em 8 de janeiro de 2023 e o ataque ao Capitólio em Washington em 6 de janeiro de 2021. Ambos foram movimentos autoritários inspirados na recusa em aceitar o resultado das urnas, protagonizados por líderes que apostaram no caos para tentar voltar ao poder.
Embora haja críticas válidas à política externa do governo Lula, como a ambiguidade em relação à Rússia e a proximidade com regimes autoritários, isso não justifica a manipulação do comércio exterior para atacar adversários internos. A tentativa de transformar os EUA em árbitro da política brasileira é vista como um ato de deslealdade com o próprio país.
Em resumo, o tarifaço que mirava Lula e Moraes acabou atingindo Jair e Eduardo Bolsonaro, desmontando uma narrativa que buscava inverter os papéis de vítima e agressor. A lição política é clara: ao brincar com fogo geopolítico para fins eleitorais, a extrema-direita acabou sentada sobre a pólvora.
Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.
Leia Também
Leia Mais
Eleitor sem memória, inocente ou conivente?
Leia Mais
Brasil aguarda resposta dos EUA sobre ‘mapa do caminho’ para negociações que podem derrubar tarifaço de 50%
Leia Mais
Ex-prefeito de Nioaque é condenado por nepotismo e terá de devolver salários pagos a cunhada e esposa de ex-chefe de gabinete
Leia Mais
Com receita recorde, JBS cresce em todas as unidades e reforça estratégia global no 3º trimestre de 2025
Municípios