Mato Grosso do Sul é o sexto estado brasileiro com mais trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, 105 pessoas foram retiradas dessa situação no Estado apenas em 2024. Somente até maio, 52 trabalhadores foram resgatados, todos em propriedades rurais, conforme dados do Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul.

A partir de agora, essas pessoas poderão contar com uma rede de apoio inédita voltada à garantia de trabalho digno e reinserção social. O projeto foi formalizado por acordos de cooperação assinados na última sexta-feira (30/5) pelo Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região e diversas instituições públicas e privadas, durante evento em Bataguassu.

A rede oferecerá abrigo temporário, assistência jurídica e qualificação profissional, com vagas reservadas na Escola Técnica Profissionalizante e encaminhamento ao mercado de trabalho. As entidades Associação Beneficente Rita Guardini e Associação Terra Santa serão responsáveis por fornecer moradia provisória, roupas e alimentação. Empresas parceiras vão disponibilizar oportunidades de emprego, enquanto a OAB prestará suporte jurídico gratuito.

“O trabalhador chegava aqui com a mala, sem ter o que comer ou onde dormir, e devendo ao patrão. Não podia mandá-lo para a rua. Então ligava para os parceiros”, contou o juiz Antônio Arraes, titular da Vara do Trabalho de Bataguassu.

A proposta é expandir a ação para outras unidades judiciárias. “Temos uma missão social que transcende o julgamento. Temos o dever de melhorar a realidade social, e não apenas analisá-la”, reforçou o desembargador Francisco Filho, gestor regional do Programa Nacional de Enfrentamento ao Trabalho Escravo.

O presidente da Associação Rita Guardini, Giorgio Mignolli, explicou que a entidade ampliará os atendimentos já prestados a moradores de rua e pessoas em trânsito.

“Salvar um ser humano em situação precária é o maior retorno que podemos ter”, afirmou.

A empresa AGT Estrela do Oeste, especializada na produção de etanol, também é parceira da rede. Seu diretor de Recursos Humanos, Júlio Cesar Coelho, destacou:

“Trabalhamos com gente e cuidamos de pessoas. A empresa atua em vários projetos sociais e vê nessa parceria uma forma de contribuir com a sociedade.”

Instituições que aderiram à rede de apoio

• Associação Beneficente Rita Guardini

• Casa de Acolhida Sagrada Família

• Associação Social Terra Santa

• Prefeituras de Bataguassu, Anaurilândia e Santa Rita do Pardo

• Naturafrig Alimentos

• Eldorado Brasil Celulose

• AGT Estrela do Oeste

• Ordem dos Advogados do Brasil – 19ª Subseção de MS

“Este é um marco social. A Justiça do Trabalho, com apoio do MPT e da sociedade civil, planta dignidade e colhe cidadania”, afirmou o promotor de Justiça Edival Goulart Quirino, reforçando o impacto transformador da iniciativa.