POLÍTICA
Cassação de Zambelli pode reconfigurar bancada do PL com retotalização dos votos
Decisão do TRE-SP, se confirmada pelo TSE, pode anular os votos de Carla Zambelli e ameaçar mandatos de Tiririca e Paulo Bilynskyj
01/02/2025
09:00
G1
DA REDAÇÃO
Os deputados federais do PL por SP Tiririca, Carla Zambelli e Delegado Paulo Bilynskyj. — Foto: Montagem/g1/Câmara dos Deputados
A cassação do mandato da deputada federal Carla Zambelli (PL), decidida pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) na última quinta-feira (30), tem o potencial de alterar de forma significativa o cenário eleitoral de 2022 para os deputados federais eleitos por São Paulo. Caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mantenha a decisão, os 946.244 votos recebidos por Carla Zambelli serão anulados, o que poderá levar a uma retotalização dos votos e a uma alteração no quociente partidário, afetando a distribuição de cadeiras na Câmara dos Deputados.
Em nota ao g1, o TRE-SP explicou que, “após o trânsito em julgado da decisão, se o acórdão for confirmado pelo TSE, haverá uma retotalização dos votos da eleição para o cargo de deputado federal de 2022, que indicará a agremiação beneficiada pela vaga”. Esse novo cálculo poderá impactar os deputados do PL, sobretudo os dois menos votados nas eleições de São Paulo, Tiririca e Paulo Bilynskyj, que receberam 71.754 e 72.156 votos, respectivamente.
Mecanismo da retotalização dos votos
De acordo com o processo eleitoral, o quociente partidário é calculado dividindo a quantidade de votos válidos para o partido pelo número de vagas disponíveis. Assim, se os votos de Carla Zambelli forem anulados, o total de votos do PL poderá ser reduzido, alterando o quociente e, por conseguinte, o número de cadeiras que o partido teria direito. O TRE-SP ressalta que somente após a retotalização será possível identificar quais mandatos poderão ser prejudicados.
Especialistas em direito eleitoral destacam que “todos os votos da candidata cassada são anulados e o resultado é recalculado”, conforme afirmou a professora Marilda Silveira, do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). O advogado Fernando Neisser, da FGV-SP, pontua que a jurisprudência da Justiça Eleitoral já se firmou no sentido de que a cassação de um mandato implica na anulação dos votos recebidos, independentemente do motivo. “Não importa se a anulação decorre de abuso de poder político ou de outra infração eleitoral, o sistema considera nulos os votos dados à pessoa cassada”, explicou.
Por outro lado, o advogado Alberto Rollo argumenta que a retotalização dos votos só ocorrerá se houver um pedido expresso ao TSE para essa recontagem. “O acórdão do TRE-SP cassou o diploma de Carla Zambelli, mas não determinou expressamente a retotalização dos votos. Se ninguém solicitar, o TSE pode não promover esse novo cálculo”, alerta Rollo.
Implicações para a bancada do PL
Nas eleições de 2022, além dos 946.244 votos obtidos por Carla Zambelli, o PL também teve destaque com o deputado Eduardo Bolsonaro, que recebeu 741.701 votos. Esses números contribuíram para a eleição de mais um deputado do partido por meio do quociente eleitoral. No entanto, a anulação dos votos de Carla Zambelli pode modificar esse equilíbrio.
Advogados como Cristiano Vilela e Renato Ribeiro afirmam que, com a retotalização, os mandatos dos deputados menos votados – como Tiririca e Paulo Bilynskyj – estão em risco. “Trata-se de uma cadeia de efeitos. A retotalização pode levar à perda de cadeiras não apenas para o PL, mas inclusive para outros partidos, dependendo do novo cálculo das sobras”, declarou Ribeiro, especialista em direito eleitoral.
Posição da deputada e perspectivas futuras
Em nota, Carla Zambelli afirmou que se sente vítima de “perseguição política” e garantiu que continuará representando São Paulo até o esgotamento dos recursos cabíveis. “Essa decisão não tem efeitos imediatos. Enquanto houver possibilidades de recurso, eu permaneço no cargo”, destacou a deputada.
A cassação, motivada por acusações de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação – por meio da divulgação de informações que foram consideradas desinformação eleitoral – foi decidida por cinco votos a favor e dois contrários pelo TRE-SP. O relator, desembargador José Antonio Encinas Manfré, afirmou que a conduta de Carla Zambelli influenciou de forma significativa a vontade dos eleitores, comprometendo a isonomia da disputa eleitoral.
Enquanto o TSE ainda analisa os recursos interpostos e decide se confirmará a cassação, o cenário político em São Paulo permanece incerto. A possível retotalização dos votos poderá não só retirar cadeiras do PL, mas também reconfigurar a composição da Câmara dos Deputados, evidenciando os efeitos de decisões judiciais sobre a representação política e o equilíbrio das bancadas no país.
Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.
Leia Também
Leia Mais
Os candidatos querem surfar no conservadorismo
Leia Mais
Glauber Braga encerra greve de fome após acordo com presidente da Câmara sobre processo de cassação
Leia Mais
PRF inicia Operação Semana Santa e Tiradentes 2025 com reforço nas rodovias federais
Leia Mais
Banco pode descontar dívida de consignado CLT de conta-corrente ou investimentos, mesmo após demissão
Municípios