POLÍTICA
Gleice Jane se posiciona contra câmeras com áudio em salas de aula
Deputada defende humanização do ensino e alerta para efeitos negativos da vigilância sobre professores e estudantes
05/12/2024
20:15
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
Em pronunciamento na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, a deputada Gleice Jane manifestou oposição ao projeto de lei que prevê a instalação de câmeras com áudio e vídeo nas salas de aula das escolas. Na sessão realizada no dia 4 de dezembro, a parlamentar argumentou que a medida não ataca as verdadeiras causas da crise no setor educacional e pode agravar as dificuldades enfrentadas por professores, estudantes e pela gestão escolar.
A proposta, segundo a deputada, nasceu de uma tentativa de proteger docentes em um contexto de crescente insegurança nas unidades de ensino, mas acabou se tornando um caminho equivocado para solucionar problemas mais profundos. Gleice Jane explicou que as atuais demandas pela instalação de câmeras refletem o resultado de transformações sociais que, ao longo do tempo, passaram a cobrar das escolas um papel alheio à formação humana mais ampla. “Hoje, temos professores e professoras trabalhando sob o viés do medo, sofrendo pressões externas e internas que resultam em casos crescentes de depressão e ansiedade na categoria”, afirmou.
Para a deputada, a escola não é apenas um ambiente de transmissão de conteúdo acadêmico. Segundo ela, trata-se de um espaço de convívio humano, onde se identificam violências sofridas por crianças, inclusive em seus núcleos familiares. Ao reduzir o ambiente escolar a um mero local de vigilância e controle, a medida desumaniza as relações entre educadores, estudantes e a comunidade. “A escola é um espaço de acolhimento, de diálogo, de desenvolvimento integral. Acreditar que a solução para os problemas seja tornar o ambiente escolar ainda mais vigiado é um grande equívoco”, pontuou.
Gleice Jane também criticou movimentos como o “Escola Sem Partido”, que, ao tentar restringir abordagens pedagógicas, desencadeiam insegurança entre os educadores. Essa dinâmica, segundo ela, leva professores a temerem ser gravados e expostos por abordarem temas curriculares essenciais. “Muitas educadoras e educadores têm medo de serem filmados enquanto ministram suas aulas, até mesmo ao tratar de conteúdos obrigatórios como História, Geografia e Ciências”, relatou.
A possibilidade de instalar câmeras com áudio, na visão da deputada, intensifica ainda mais essa sensação de vigilância permanente. Ela reconheceu que alguns defendem a presença de câmeras sem áudio, mas considera que isso não resolve o problema central: a falta de condições adequadas de trabalho e de suporte aos profissionais da educação. “O que precisamos é discutir as condições de ensino, garantir formação, apoio psicológico e estruturas adequadas. Não é sufocando o diálogo ou convertendo a escola em um ‘big brother’ educacional que enfrentaremos os desafios”, explicou.
Gleice Jane alertou que um cenário onde estudantes se sentem “superpoderosos” ao poderem vigiar e punir seus professores, somado à falta de investimento em formação e valorização dos profissionais, afeta a qualidade do ensino. A parlamentar ressaltou que a solução não está no monitoramento extremo, mas na humanização das relações, na promoção do diálogo e no fortalecimento da confiança e do respeito mútuo. “Sem humanizar as relações, não há educação de qualidade. É preciso colocar pessoas, e não câmeras, no centro da discussão”, destacou.
Ao encerrar sua fala, Gleice Jane lembrou que a educação de Mato Grosso do Sul já enfrenta índices preocupantes e necessita de políticas públicas eficazes, apoio aos profissionais e envolvimento de toda a comunidade escolar. Para ela, melhorar a educação exige revisitar prioridades, ouvir professores, estudantes e famílias, e valorizar o papel integral da escola na formação cidadã. “A verdadeira transformação passa pelo respeito ao professor, pelo diálogo transparente entre gestão, comunidade e educadores, e pela construção de um ambiente que encoraje o aprendizado. Vigilância não é o caminho”, concluiu.
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