O ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques chegou a Brasília neste sábado (27) e ficará preso no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal. Ele foi transferido após ser entregue pelas autoridades paraguaias à Polícia Federal (PF) em Foz do Iguaçu, no Paraná.

O traslado foi feito em uma aeronave King Air da PF, com duração aproximada de três horas. O avião pousou no Aeroporto de Brasília por volta das 13h15. Silvinei ficará custodiado na ala do 19º Batalhão da Polícia Militar, conhecida como Papudinha, onde também está preso o ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

Prisão e tentativa de fuga

Silvinei foi detido na sexta-feira (26) no Assunção, no Paraguai, ao tentar embarcar para El Salvador utilizando passaporte falso. Condenado a 24 anos e 6 meses de prisão na ação penal do Núcleo 2 da trama golpista, ele cumpria prisão domiciliar quando rompeu a tornozeleira eletrônica e deixou o Brasil na madrugada de Natal, numa tentativa de evitar o cumprimento da pena.

Após a confirmação da fuga, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decretou a prisão preventiva do ex-diretor.

Segundo a PF, a tornozeleira parou de transmitir sinal de GPS por volta das 3h da quinta-feira (25). Agentes foram ao apartamento de Silvinei, em São José, e constataram sua ausência. A análise das câmeras do condomínio mostrou que ele esteve no local até as 19h22 da véspera de Natal (24), quando deixou o prédio carregando bolsas, ração, tapetes higiênicos e um cachorro da raça pitbull.

Destino escolhido e contexto político

A PF informou que Silvinei tentou fugir para El Salvador, país governado por Nayib Bukele, frequentemente citado por setores da direita bolsonarista como referência de política de segurança pública. Ainda não está claro se o ex-diretor buscava abrigo político no país, mas a escolha do destino não surpreendeu investigadores.

El Salvador tornou-se destino recorrente de políticos alinhados ao bolsonarismo, atraídos pela política de linha-dura adotada por Bukele. Apesar da queda nos índices de criminalidade, organizações de direitos humanos e investigações jornalísticas apontam que os resultados ocorreram à custa de regime de exceção, prisões em massa, violação de garantias constitucionais, julgamentos coletivos e restrições à imprensa.

Reportagens do jornal El Faro indicaram, ainda em 2020, a existência de acordos entre o governo salvadorenho e gangues, como a MS-13 e a Barrio 18, tese posteriormente corroborada por investigação do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, que apontou benefícios carcerários e incentivos financeiros em troca da redução da violência.

Romaria bolsonarista ao país

Nos últimos anos, El Salvador passou a integrar o roteiro de lideranças da direita brasileira. Em novembro, o senador Flávio Bolsonaro, o deputado federal cassado Eduardo Bolsonaro e o deputado Nikolas Ferreira reuniram-se com o ministro da Segurança Pública salvadorenho, Gustavo Villatoro. Em outra ocasião, Villatoro participou, por videoconferência, de audiência da Comissão de Segurança Pública da Câmara, a convite do deputado Osmar Terra.

Também visitou o país o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, cuja viagem oficial custou R$ 197 mil aos cofres públicos, segundo reportagens.

Condenação e próximos passos

Silvinei Vasques foi condenado por colocar a estrutura da PRF a serviço da tentativa de golpe, incluindo bloqueios rodoviários no segundo turno das eleições de 2022 para dificultar o acesso de eleitores às urnas, especialmente em regiões onde o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha maior preferência.

Com a chegada a Brasília e o cumprimento da prisão preventiva, Silvinei passa a aguardar no sistema penitenciário do DF os desdobramentos processuais e o início da execução da pena, enquanto o STF analisa eventuais recursos apresentados pela defesa.