Política / Justiça
Pivô de denúncias de corrupção no Detran-MS, David Chita é preso em Campo Grande após um ano e meio foragido
Despachante tentou acordo de delação, disse temer morrer na prisão e chegou a acusar deputado federal de chefiar esquema
18/12/2025
07:45
DA REDAÇÃO
©REPRODUÇÃO
O despachante David Cloky Hoffaman Chita, apontado como pivô das denúncias de corrupção no Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul), foi preso na manhã desta quinta-feira (18), em Campo Grande, após permanecer foragido por cerca de um ano e meio. A prisão foi realizada por agentes do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros).
David foi localizado em sua residência, na Rua 26 de Agosto, região central da Capital. Contra ele havia mandado de prisão preventiva no âmbito da Operação Miríade, deflagrada pela Polícia Civil em maio de 2023, que apura um esquema de fraudes e corrupção dentro do Detran-MS, especialmente na agência de Rio Negro.
O processo que tramita em Campo Grande envolve, além de David Chita:
Abner Aguiar Fabre, servidor do Detran-MS (ainda nos quadros do órgão);
Gênis Garcia Barbosa, ex-gerente da agência do Detran em Rio Negro;
Eufrásio Ojeda, ex-servidor do órgão.
Segundo a denúncia, o esquema tinha como objetivo fraudar registros e “esquentar” documentações de veículos com restrições, prática que já havia sido alvo de outras investigações no Estado.
Conforme os autos, as fraudes na agência do Detran-MS de Rio Negro teriam sido comandadas por Joaci Nonato Rezende, ex-prefeito do município entre 2005 e 2012, que posteriormente foi nomeado gerente da agência.
De acordo com o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), Joaci teria liderado um esquema de recebimento de propinas para realizar alterações irregulares nos registros do Detran, entre agosto de 2021 e fevereiro de 2023.
O cargo de gerente de agência é apontado como estratégico para a operacionalização do esquema.
Antes de ser preso, David Chita tentou firmar acordo de delação premiada, sem sucesso. Em entrevistas concedidas no ano passado, ele acusou o deputado federal Beto Pereira (PSDB) de ser o chefe do esquema de corrupção no Detran-MS.
Segundo o despachante, ele teria como comprovar as denúncias, que envolveriam servidores públicos, empresários, delegados de polícia, assessores e políticos. David afirmou ainda que estava foragido por temer pela própria vida, caso fosse preso.
“O que estou contando não é nem 30% de tudo que eu sei. Tem muito mais coisas que podem aparecer se quiserem investigar e se não me matarem antes”, declarou à época.
De acordo com Chita, mais de R$ 1,2 milhão teriam sido repassados ao grupo que ele atribuía ao comando do parlamentar. Ele chegou a apresentar prints que, segundo sua versão, indicariam pagamentos periódicos de R$ 30 mil a Beto Pereira e R$ 20 mil a Juvenal Neto (PSDB), ex-diretor do Detran-MS e ex-prefeito de Nova Alvorada do Sul.
A delação foi formalmente apresentada ao MPMS, e o Jornal Midiamax colaborou com as investigações, entregando às autoridades um pen drive com a entrevista completa de David Chita.
Por envolver um deputado federal, o caso foi remetido à PGR (Procuradoria-Geral da República), em Brasília, que decidiu pelo arquivamento, sob a justificativa de “ausência de elementos” para prosseguimento das investigações.
O esquema de propinas e fraudes no sistema do Detran-MS não é inédito. Reportagens do Núcleo de Jornalismo Investigativo do Jornal Midiamax, publicadas em 2020, já haviam denunciado práticas semelhantes. A Operação Gravame, posterior, confirmou parte das irregularidades e alcançou alguns servidores, mas não avançou sobre figuras políticas apontadas como beneficiárias, segundo as denúncias.
Com a prisão desta quinta-feira, David Chita passa a responder preso à ação penal da Operação Miríade. O caso reacende o debate sobre a extensão das investigações, a responsabilização de agentes públicos e políticos e os limites das apurações sobre corrupção no Detran-MS.
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