Economia / Correios
Correios acumulam 12 trimestres de prejuízo e recorrem a empréstimo de R$ 20 bilhões para evitar colapso
Após lucros entre 2017 e 2021, estatal enfrenta queda de receitas, aumento de despesas e passivos judiciais bilionários
19/10/2025
06:30
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
Os Correios enfrentam a pior crise financeira de sua história recente. A estatal acumula 12 trimestres consecutivos de prejuízo, com um rombo mensal que já ultrapassa R$ 700 milhões, podendo chegar a R$ 1 bilhão por mês em 2026 se não houver reestruturação. Para tentar conter o colapso, o governo federal prepara um plano de socorro via empréstimo de R$ 20 bilhões, com garantia soberana da União, destinado a cobrir passivos, precatórios e manter a operação nos próximos dois anos.
Segundo o novo presidente da empresa, Emmanoel Rondon, a estatal “não se adaptou de forma ágil à nova realidade”, perdendo competitividade e receita. “A perda de competitividade vem fazendo com que a gente tenha perda de receita, e ao impactar o caixa, isso vem afetando a operação”, disse em entrevista recente.
Entre 2017 e 2021, os Correios registraram lucros consecutivos, impulsionados pela explosão do comércio eletrônico durante a pandemia. Mas, a partir de 2022, a empresa entrou em trajetória de queda acentuada, afetada por má gestão, custos crescentes e a perda de espaço para gigantes como Amazon, Mercado Livre e Magazine Luiza, que criaram estruturas próprias de logística após anos de falhas operacionais da estatal.
O quadro se agravou com o lançamento do programa Remessa Conforme, da Receita Federal, em 2023, que criou uma esteira rápida para encomendas internacionais. Os Correios, antes líderes nesse segmento, demoraram a reagir e perderam receita significativa após a “taxa das blusinhas” — o imposto sobre compras internacionais de até US$ 50 — entrar em vigor em agosto de 2024.
Mesmo diante do desequilíbrio financeiro, a estatal aumentou gastos. Em 2024, promoveu um concurso público com mais de 3 mil vagas, lançou um programa de demissão voluntária (PDV), concedeu reajuste salarial de 4,11% e reativou uma cláusula de bônus de 70% sobre o terço de férias. Além disso, investiu recursos próprios na compra de veículos elétricos e em tecnologia, reduzindo ainda mais o caixa.
O modelo de plano de saúde, altamente subsidiado pela empresa, também pesa nas contas. Paralelamente, ações judiciais trabalhistas e precatórios se multiplicaram, sem mapeamento adequado. Auditoria independente da Consult Auditores apontou “fragilidades e inconsistências” nas provisões, o que obrigou a empresa a republicar demonstrações financeiras de anos anteriores.
A falta de controle sobre ações judiciais chegou ao limite em setembro de 2025, quando uma explosão inesperada de precatórios acionou cláusulas de contratos bancários, bloqueando recursos e atrasando o pagamento de salários. A situação só foi normalizada após renegociação emergencial.
Atualmente, os Correios projetam pagar R$ 960 milhões em precatórios neste ano e R$ 1,27 bilhão em 2026. O empréstimo de R$ 20 bilhões deverá cobrir parte desses passivos e sustentar o funcionamento da empresa até que um plano de reestruturação operacional e financeira seja consolidado.
O plano de ajuste, segundo a direção, prevê redução gradual de despesas, aumento da produtividade e reorganização do portfólio de serviços. A empresa tenta ingressar em novos mercados, como o transporte de medicamentos e produtos hospitalares, mas as receitas ainda são insuficientes.
Apesar da crise, o governo federal tem evitado discutir publicamente o tema. Nos bastidores, técnicos reconhecem que a empresa demorou a reagir e que o socorro é inevitável para evitar interrupções na entrega de correspondências e encomendas em todo o país.
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