De medicina a auditora: o caso Laís Giselly, a “candidata gênio” sob suspeita de fraudes milionárias em concursos públicos
Investigações da Polícia Federal revelam padrão estatisticamente impossível de aprovações e ligação com esquema nacional de venda de vagas
07/10/2025
17:00
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
A trajetória de Laís Giselly Nunes de Araújo, de 31 anos, impressiona à primeira vista: aprovações em medicina, direito, técnica em assuntos educacionais, auditora fiscal do trabalho e, mais recentemente, analista de controle externo do Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE). Mas, segundo a Polícia Federal (PF), o currículo da chamada “candidata gênio” esconde um sofisticado esquema de fraudes em concursos públicos com ganhos milionários.
Apontada como uma das principais articuladoras da organização criminosa desmantelada pela Operação Última Fase, deflagrada no início de outubro, Laís acumula 14 registros sob suspeita de envolvimento em irregularidades desde 2022. As investigações indicam que as aprovações em sequência e em cargos de alto prestígio não ocorreram por mérito, mas por manipulação de gabaritos e compra de resultados.
O levantamento da PF, cruzando dados de portais oficiais, boletins universitários e provas de concursos, revelou um padrão de acertos idênticos entre Laís e outros integrantes do grupo, incluindo o ex-policial militar Wanderlan Limeira de Sousa, apontado como o líder do esquema.
“Os gabaritos de Laís e de outros investigados apresentaram coincidência total de acertos e erros, algo estatisticamente nulo em condições normais”, destacou um dos peritos da banca examinadora em relatório à PF.
A candidata foi aprovada em 2024 para o cargo de auditora fiscal do trabalho — uma das posições mais concorridas do país — no Concurso Nacional Unificado (CNU). Na prova, Laís acertou e errou exatamente as mesmas questões que Wanderlan, replicando integralmente seu padrão de respostas.
Antes do CNU, Laís já havia sido nomeada técnica em assuntos educacionais na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), onde, em apenas três meses, obteve progressão funcional, subindo de nível em tempo recorde — fato que agora é alvo de apuração interna.
Documentos também apontam aprovações anteriores em cursos de medicina e direito em universidades federais, além de participações em eventos acadêmicos na área jurídica. No entanto, não há comprovação de conclusão da formação médica, o que reforça as suspeitas de manipulação documental.
De acordo com a Polícia Federal, Laís e o companheiro, Thyago José de Andrade, conhecido como “Negrão”, lideravam um núcleo regional do esquema que operava em Recife e Jaboatão dos Guararapes.
Mensagens obtidas no celular da candidata revelam conversas com Larissa de Oliveira Neves, sobrinha de Wanderlan, e outros suspeitos, nas quais comentavam provas e trocavam informações sobre resultados.
As investigações apontam que o casal comprava aprovações próprias e intermediava fraudes para terceiros, cobrando até R$ 450 mil por vaga.
“A análise financeira e telemática mostra indícios de que o casal movimentou quantias expressivas, lucrando ao mesmo tempo em que participava ativamente das fraudes”, consta no relatório policial.
Mesmo com o avanço das investigações e a prisão dos comparsas, Laís continuou aparecendo em listas de aprovados. Quatro dias após sua prisão, o nome dela surgiu entre os classificados para o cargo de analista de controle externo do TCE-PE, em concurso organizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), com salário inicial de R$ 27,7 mil.
Poucos dias antes, também havia sido homologada sua inscrição para o cargo de procuradora jurídica municipal em Abreu e Lima (PE), mas a candidata não compareceu à prova devido à detenção.
A Justiça Federal decretou prisão preventiva, afastamento das funções públicas e proibição de assumir novos cargos. Também foi autorizada a quebra dos sigilos bancário e telemático da candidata, que responderá pelos crimes de:
Fraude em certame público
Organização criminosa
Lavagem de dinheiro
Somadas, as penas podem ultrapassar 20 anos de reclusão.
A PF ainda solicitou às bancas organizadoras os gabaritos de todos os concursos em que Laís foi aprovada, para comparar com provas de outros suspeitos e verificar se as fraudes seguiram ocorrendo mesmo após o início das investigações.
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