Campo Grande (MS), Sexta-feira, 05 de Setembro de 2025

Artigo

Quando Crime e Fama Colidem: Hytalo Santos sob a Lente da Teoria Tríplice da Delinquência

05/09/2025

14:45

Dr. José Maria da Silva Filho

©DIVULGAÇÃO

A Teoria Tríplice da Delinquência (TTD), desenvolvida pelo criminalista e jurista Dr. José Maria da Silva Filho, mundialmente conhecido como Dr. Zema, explica como a moralidade fragilizada, a vergonha diluída e o medo ineficaz moldam comportamentos delinquentes. A tese, apresentada originalmente em sua obra acadêmica, demonstra que a delinquência não nasce apenas do desejo pelo ganho ilícito, mas de uma interação complexa entre fatores individuais e sociais que enfraquecem os freios éticos e sociais.

Nos últimos dias, o Brasil acompanhou mais um capítulo da estranha transformação de criminosos em figuras de prestígio digital. Hytalo Santos, influenciador alagoano com milhões de seguidores, tornou-se alvo de acusações graves, incluindo aliciamento de menores, estupro e exploração sexual. A investigação não revela apenas um crime isolado, mas também o fascínio coletivo por personagens que, mesmo sob denúncia, continuam a atrair engajamento e defensores fiéis.

“Na sociedade do espetáculo, a vergonha pode se converter em glória. O que deveria gerar repulsa produz seguidores, engajamento e oportunidades econômicas”, afirma Dr. Zema.

A TTD identifica três forças centrais que explicam a delinquência:

Moralidade Fragilizada

A erosão dos valores éticos permite que comportamentos ilícitos sejam relativizados. No caso de Hytalo, a normalização de conteúdos sexualizados envolvendo crianças evidencia como a moralidade coletiva pode ser corroída pelas dinâmicas digitais.

Vergonha Diluída

A vergonha social, que antes afastaria indivíduos do convívio público, perdeu força. Seguidores continuam defendendo o influenciador, como se a vida digital estivesse dissociada da vida real. Essa blindagem simbólica transforma o que deveria ser repulsa em aplausos e defesa pública.

Medo Ineficaz

Não se trata apenas do medo da punição legal, mas também do receio social — perder respeito ou credibilidade. Quando o público transfere para o acusado um status de “mártir”, o medo social desaparece, permitindo que a delinquência continue ativa e lucrativa.

A Teoria Tríplice da Delinquência, como tese acadêmica, deixa claro que esses três pilares são interdependentes: a ausência de qualquer um deles cria terreno fértil para que indivíduos criminosos ascendam em notoriedade, mesmo diante de graves acusações.

Atualizações sobre o Caso Hytalo Santos

Prisões e Transferência: Em agosto de 2025, Hytalo Santos e seu marido foram presos em São Paulo e transferidos para a Penitenciária Desembargador Flóscolo da Nóbrega, na Paraíba. O STJ manteve a prisão preventiva devido à gravidade das acusações.

Denúncias e Investigação: Desde dezembro de 2024, o Ministério Público da Paraíba investiga exploração sexual de menores e trabalho infantil artístico irregular, após vídeos viralizados denunciando a sexualização de crianças.

Responsabilidade Familiar: Hytalo pagava mesadas aos pais das crianças envolvidas, permitindo participação em conteúdos sexualizados — um fator que evidencia vulnerabilidade e falha na proteção infantil.

O Brasil diante da Violência Sexual

Em 2023, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública registrou mais de 74 mil casos de estupro, sendo 61% das vítimas crianças e adolescentes. Em 2024, os registros chegaram a 87.545, uma vítima a cada seis minutos — o maior índice da série histórica. O aumento evidencia a gravidade do problema e a urgência de políticas públicas efetivas.

Casos como o de Hytalo Santos não apenas expõem crimes graves, mas também a forma como a sociedade reage - ou deixa de reagir - à violência. A TTD nos ensina que, sem moralidade, vergonha e medo, criminosos podem transformar repulsa em prestígio. Cada curtida, compartilhamento ou defesa reforça esse ciclo.

“O espetáculo do crime não é apenas reflexo da internet, mas sintoma de uma sociedade que já não reage com indignação ao que deveria causar repulsa”, alerta Dr. Zema.

Até que sociedade, instituições e plataformas digitais restabeleçam esses pilares, a linha que separa crime de entretenimento permanecerá cada vez mais tênue e perigosa.


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