Meio Ambiente
Javaporcos com carne azul neon preocupam autoridades na Califórnia
Fenômeno foi causado por veneno usado na agricultura; especialistas alertam para risco à saúde humana e à cadeia alimentar
24/08/2025
07:00
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
Um caso inusitado chamou atenção das autoridades ambientais da Califórnia: javaporcos foram encontrados com carne e gordura em tom de azul neon no condado de Monterey. O episódio foi relatado em março pelo especialista em controle de fauna Dan Burton, que afirmou nunca ter visto algo parecido.
“Não estou falando de um pouco de azul. Estou falando de azul neon, azul mirtilo. É uma loucura”, disse Burton ao Los Angeles Times.
A análise realizada pelo Departamento de Pesca e Vida Selvagem da Califórnia (CDFW) e pelo Laboratório de Saúde Animal e Segurança Alimentar, em Davis, identificou a origem do fenômeno: difacinona, um rodenticida anticoagulante amplamente utilizado na agricultura e tingido de azul brilhante para alertar humanos sobre seu risco de ingestão.
A difacinona permanece ativa mesmo após o cozimento da carne.
Em javaporcos adultos, que podem pesar entre 45 kg e 90 kg, as doses ingeridas não são letais de imediato.
A substância bloqueia enzimas ligadas à reciclagem da vitamina K, comprometendo a coagulação do sangue e causando hemorragias internas que levam à morte dias após a ingestão.
Nesse período, os animais intoxicados tornam-se presas fáceis, espalhando o veneno pela cadeia alimentar.
O problema não é novo. Um estudo de 2018 do CDFW detectou resíduos de rodenticidas em 8,3% dos javaporcos analisados e em alarmantes 83% das amostras de ursos em áreas de controle de roedores.
Os javaporcos, híbridos de javalis com porcos domésticos, têm dieta diversificada e acabam ingerindo tanto iscas envenenadas quanto roedores contaminados, tornando-se vetores involuntários de propagação da substância.
Em 2024, o uso de difacinona foi restrito a técnicos certificados, mas vestígios continuam sendo encontrados na fauna. Segundo especialistas, a carne azul visível é apenas a face mais evidente do problema: animais aparentemente normais também podem estar contaminados.
O CDFW recomenda que caçadores relatem qualquer anomalia ao Laboratório de Saúde da Vida Selvagem e evitem consumir carne suspeita. Agricultores foram orientados a priorizar métodos de manejo integrado de pragas, como cercas, armadilhas e incentivo a predadores naturais, reduzindo a dependência de químicos.
“Os caçadores precisam estar atentos: a carne de javalis, veados, ursos e até gansos pode estar contaminada se esses animais tiverem ingerido rodenticidas”, alertou Ryan Bourbour, coordenador de pesquisas sobre pesticidas do CDFW.
O caso levanta preocupações sobre os efeitos colaterais do uso de venenos agrícolas e como essas substâncias podem atingir não apenas espécies silvestres, mas também impactar a saúde humana por meio da cadeia alimentar.
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