Campo Grande (MS), Segunda-feira, 07 de Julho de 2025

Economia / Justiça Fiscal

Brasil tem 63% da riqueza concentrada em 1% da população e concede R$ 414 bilhões em isenções sem gerar empregos

Sistema tributário beneficia super-ricos e penaliza trabalhadores com altas alíquotas de IR; Haddad propõe pacto global contra evasão fiscal

07/07/2025

15:00

DA REDAÇÃO

Desigualdade extrema, concentração de poder econômico e isenções fiscais bilionárias sem contrapartidas marcam o cenário tributário brasileiro em 2025. Dados revelam que o país se aproxima de uma plutocracia, enquanto a maioria da população continua arcando com os custos do sistema.

Uma professora com três salários mínimos paga até 22,5% de Imposto de Renda. Já bilionários que ganham entre R$ 750 milhões e R$ 1 bilhão por ano pagam, em média, apenas 1,49%. Essa distorção foi revelada pelo jornal Valor Econômico, com base na Lei de Acesso à Informação. A disparidade escancara a injustiça de um sistema que tributa pesadamente o trabalho e alivia o capital.

Elite econômica domina a renda e a política

Segundo o relatório da Oxfam de 2023, 1% da população brasileira detém 63% da riqueza nacional, em contraste com os 50% mais pobres, que concentram apenas 2% dos ativos financeiros. Esses super-ricos ganham, em média, 36 vezes mais que os 40% mais pobres.

Além disso:

  • Mais de 141 mil brasileiros ganham acima de R$ 50 mil por mês;

  • O rendimento médio mensal do 1% mais rico foi de R$ 21.767 em 2024 (IBGE);

  • A desigualdade também é racial: brancos recebem mais de 70% acima da renda média de pessoas negras.

Nossos super-ricos são praticamente todos homens e brancos”, destacou Kátia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.

Tributação regressiva e impasse no Congresso

A maior parte da arrecadação vem de impostos sobre o consumo, pagos por todos, enquanto lucros e dividendos permanecem amplamente isentos. A proposta do ministro Fernando Haddad de taxar em 10% quem recebe mais de R$ 600 mil ao ano enfrenta resistência no Congresso, apesar de 76% da população apoiar a medida, segundo o Datafolha.

O próprio presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), articulou a derrubada do reajuste do IOF, beneficiando bancos e elites financeiras. Poucos dias depois, foi homenageado por bilionários na casa de João Doria.

Renúncias fiscais: benefício bilionário sem retorno

De janeiro de 2024 a abril de 2025, o governo federal abriu mão de R$ 414 bilhões em impostos. Setores beneficiados:

  • Dairy Partners Americas: R$ 16 bilhões

  • Honda e Samsung: R$ 10,5 bilhões cada

  • JBS: R$ 4,9 bilhões

  • Aviação comercial: R$ 1,98 bilhão

  • “Pintos de um dia” (melhoramento genético): R$ 904 milhões

  • Exportação de soja: R$ 5,9 bilhões

Sociedade capturada pelo topo

Conforme o sociólogo Pierre Bourdieu, a dominação simbólica substitui a dominação pela força. A elite econômica influencia leis, financia campanhas e molda decisões no Congresso — criando um Estado que serve aos ricos e reprime os pobres.

O ministro Haddad defende um pacto internacional com a criação de uma Convenção da ONU sobre Tributação Global, além do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, como resposta à evasão fiscal e à crise climática global.

Reforma tributária: teste moral e político

A segunda etapa da reforma tributária prevê isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil, medida que aliviaria a classe média baixa. No entanto, sem a coragem política de enfrentar os super-ricos, o projeto pode naufragar.

“É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um bilionário abrir mão de sua isenção fiscal”, ironiza o texto, parafraseando o Evangelho.

Congresso sob cerco: BBB — Bilionários, Bancos e Bets

Além das elites econômicas e industriais, o setor das casas de apostas também avança no poder. Ciro Nogueira (PP-PI), aliado de sites de apostas, mesmo sendo suplente na CPI das Bets, resiste a ser retirado da comissão mesmo após conflito de interesses.

A captura institucional é denunciada por intelectuais como Jessé Souza e Sheldon Wolin, que alertam para a existência de uma "democracia gerida", onde instituições existem, mas são operadas por e para elites.


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