Política
Audiência na Câmara debate integração da rede de atendimento às mulheres vítimas de violência em Campo Grande
Encontro reuniu autoridades, especialistas e movimentos sociais para discutir falhas, avanços e desafios na proteção às mulheres
24/03/2025
17:30
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
A Câmara Municipal de Campo Grande promoveu, nesta segunda-feira (24), uma Audiência Pública voltada à integração da rede de atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. A sessão foi presidida pela vereadora Luiza Ribeiro (PT), da Comissão Permanente de Políticas e Direitos das Mulheres, e contou com a participação de autoridades do judiciário, defensoria, movimentos sociais e representantes do poder público.
Em tom de alerta, a vereadora destacou a gravidade dos índices de violência contra a mulher na Capital e criticou a ausência de representantes da Secretaria Municipal de Saúde no debate.
“O funcionamento integrado da rede é essencial. E os serviços de saúde são fundamentais na recuperação física e emocional das vítimas. A ausência da pasta demonstra que ainda há setores que não acordaram para a urgência dessa pauta”, afirmou Luiza.
O debate foi marcado por relatos emocionantes, como o da mãe da jornalista Vanessa Ricarte, morta em 12 de fevereiro, vítima de feminicídio. Maria Magdalena Ricarte criticou o atendimento da filha pela Casa da Mulher Brasileira e pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam).
“Os áudios mostram como ela ficou decepcionada. Houve falha, sim. Se tivessem feito a escolta como determina a Lei Maria da Penha, minha filha não teria sido morta”, declarou.
A delegada Elaine Benicasa, titular da Deam, rebateu as críticas afirmando que os inquéritos foram apurados nos mínimos detalhes e que o acusado, Caio Nascimento, foi indiciado por feminicídio, violência doméstica e cárcere privado.
A audiência pública reuniu representantes do Judiciário, Defensoria Pública, movimentos sociais, Conselhos e instituições de atendimento à mulher, que apontaram fragilidades na rede e propostas de melhoria:
Ampliação da representatividade no Comitê Gestor da Casa da Mulher Brasileira
Capacitação contínua de profissionais que atuam no acolhimento
Aprimoramento do sistema de medidas protetivas com intimação eletrônica
Enfrentamento da subnotificação de violência psicológica
Educação nas escolas sobre igualdade de gênero e prevenção à violência
Mapeamento de bairros com maior incidência de violência, via Dossiê Mulher
“A qualidade do atendimento recebido por uma mulher vítima de violência determina como será sua vida depois. É hora de olhar para as mulheres, e não apenas para o agressor preso”, alertou a pesquisadora Estela Escandola, da Escola de Saúde Pública de MS.
A deputada federal Camila Jara (PT) criticou a falta de efetividade do sistema:
“Somos violentadas pela nossa própria existência. O sistema ainda falha em nos proteger. Falhou com Vanessa e continua falhando todos os dias”, disse.
A juíza Tatiana Said, da 4ª Vara de Violência Doméstica, destacou que a unidade já recebe 20 pedidos de medida protetiva por dia e defendeu medidas preventivas, como capacitação de policiais e maior agilidade nos processos.
A defensora pública Zeliana Luzia Sabala, do Nudem, relatou que o núcleo atende mulheres em diversas situações, inclusive familiares de vítimas de feminicídio, e defendeu o fortalecimento do suporte jurídico e psicossocial às mulheres.
A audiência também abordou a violência contra mulheres indígenas, com a participação de lideranças e representantes do Imol, Casa Abrigo, Patrulha Maria da Penha, além de psicólogas, assistentes sociais e membros de diversos movimentos feministas.
“Precisamos que uma instituição cuide da outra. Uma rede eficaz depende de diálogo, acolhimento e resolutividade”, reforçou Angélica Fontanari, secretária-executiva da Mulher de Campo Grande.
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