Campo Grande (MS), Segunda-feira, 12 de Maio de 2025

Dilma tem alguma chance de retomar o mandato na votação final do Senado?

31/05/2016

20:00

JE

Reações a cortes de ministérios e revelação de conversas que sugerem tentativas de barrar a Lava Jato marcam início do governo Temer. Cientistas políticos analisam se percalços favorecem presidente afastada a ponto de fazê-la voltar

TEMER E DILMA, EM EVENTO NO PALÁCIO DO PLANALTO, EM NOVEMBRO DE 2014 - FOTO: UESLEI MARCELINO/REUTERS - 05.11.2014

O presidente interino Michel Temer assumiu o Palácio do Planalto em 12 de maio. Em duas semanas o novo governo foi alvo de sucessivos protestos pelo país e forçado a afastar um de seus principais ministros, o senador Romero Jucá, que havia sido destacado para comandar o Planejamento do governo. Por outro lado, Temer mostrou força no Congresso, onde já conseguiu aprovar na quarta-feira (25) a revisão da meta fiscal de 2016.

Esses e outros episódios estão ocorrendo num momento de interinidade. Afinal, Dilma Rousseff ainda aguarda o Senado concluir o julgamento do pedido de impeachment. A partir disso, surgem algumas questões. Qual o tamanho do impacto dos problemas enfrentados pelo governo na imagem de Temer? Esses episódios mudam algo na situação de Dilma, cuja condenação no julgamento final do impeachment vem sendo considerada inevitável no meio político?

O que já ocorreu em duas semanas de governo Temer

CONVERSAS SOBRE ‘GRANDE ACORDO’

A “Folha de S.Paulo” revelou diálogos entre o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado e o ex-ministro Romero Jucá, o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ex-presidente José Sarney que sugerem que a saída de Dilma Rousseff e a chegada de Temer ao poder era vista pelos peemedebistas como uma saída para barrar a Lava Jato. A operação investiga partidos e políticos, entre eles o PMDB, Jucá, Renan e o próprio Machado, que fez as gravações sem que os interlocutores soubessem. Em seu discurso inicial, em 12 de maio, Temer prometeu “proteger” a Lava Jato.

PROTESTOS CONTRA REFORMA MINISTERIAL

A fusão ou fechamento de ministérios e a ausência de mulheres e negros à frente das pastas motivaram inúmeras manifestações de grupos sociais pelo país. A reação mais forte veio da classe artística em resposta ao fim do Ministério da Cultura. Para tentar cortar o coro “Fora, Temer”, o presidente interino decidiu recriar o ministério em 21 de maio.

INDICAÇÕES DE ALIADOS DE CUNHA

Mesmo com o mandato suspenso pelo Supremo, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) emplacou ao menos três aliados em postos importantes no governo Temer. Cunha é réu na Lava Jato e foi afastado sob suspeita de interferência nas investigações. Ele nega as acusações e disse não ser responsável pelas indicações, mas a sabida ligação entre eles causou desconforto até mesmo entre políticos próximos a Temer.

DECLARAÇÕES POLÊMICAS DE MINISTROS

Titulares de pastas importantes tiveram que vir a público para recuar de declarações desastradas. O exemplo mais recente veio do ministro da Saúde, Ricardo Barros, após afirmar ser necessário “repactuar” o acesso universal à saúde. Em poucas horas ele se retratou e disse que o SUS está garantido e não seria revisto.
Qual a situação de Dilma

DEFESA NO SUPREMO

Lideranças do PT pretendem usar a revelação dos diálogos envolvendo nomes do PMDB para questionar no Supremo a validade jurídica do impeachment e reforçar a tese de que se tratou de um “golpe”.

REVERTER VOTOS NO SENADO

O partido também tentará reverter no Senado os votos favoráveis ao afastamento. Na votação de 12 de maio, 55 senadores votaram contra Dilma. Havia 78 parlamentares presentes e entre os ausentes ao menos dois afirmaram que votariam pelo impeachment. Para a petista ser definitivamente afastada são necessários 54 votos.

CRONOGRAMA DO PROCESSO

O pedido de impeachment ainda será submetido a uma segunda votação antes do julgamento final. Essa votação decide se Dilma deve ou não ir a julgamento e está prevista para o começo de agosto. Nesta etapa é preciso apenas maioria simples (41, se os 81 senadores estiverem presentes) para encerrar o processo ou para levar Dilma a julgamento.

IMAGEM PÚBLICA

Enquanto prepara sua defesa, a presidente afastada tem recorrido a entrevistas e a publicações nas redes sociais para continuar viva no cenário político. A petista tem explorado os deslizes cometidos por Temer e procurado exaltar ações de sua gestão.

A opinião de cientistas políticos

Ouvimos dois cientistas políticos para saber se as falhas e os desgastes ocorridos no início do governo interino favorecem presidente afastada. São eles:

Milton Lahuerta, cientista político e coordenador do Laboratório de política e governo da Unesp

Cláudio Couto, cientista político, professor do Departamento de Gestão Pública da FGV
Há chances de Dilma voltar ao governo?

MILTON LAHUERTA “Penso que há mais chances de termos novas eleições do que a Dilma voltar. Até porque essa tem sido a postura sinalizada pelo próprio PT. De setores do partido, digamos, mais qualificados politicamente. Penso na entrevista do ex-ministro Edinho Silva, por exemplo, em que ele chama atenção para a necessidade de um entendimento entre o PT e a oposição ao PT em torno de uma agenda de reformas e perspectivas que pudessem sinalizar uma nova eleição.

A volta de Dilma não vai ser desejada. Dilma não conseguiu governar. Ficou evidente a fragilidade dela como governante e isso é irreversível. Diria que não tem a menor chance de ela voltar ao governo. O quadro agora é: ou nós vamos com Temer, com um governo de transição e eleições em 2018 (o que cada vez está se mostrando mais difícil por causa dos últimos acontecimentos e da pressão dos setores da esquerda) ou nós vamos para uma nova eleição. Esse último é o cenário em torno do qual pode haver algum pacto para vislumbrarmos um eixo político para o país.”

CLÁUDIO COUTO “É óbvio que esses percalços não são positivos para o governo Temer. Agora, se tudo isso alimenta a volta da Dilma? Eu acho que não. Para que Dilma pudesse voltar seria necessário que dois terços que já votaram favoravelmente ao impeachment no Senado se desmanchassem. Imagino que esses senadores vão fazer um cálculo muito pragmático. Eles vão imaginar: eu ganho mais ou perco mais com a eventual volta do governo Dilma?

Em virtude desse cálculo, me parece que eles teriam mais a perder. Primeiro porque seria um governo certamente sem maioria no Congresso, ou seja, um governo com muitas dificuldades de tocar sua agenda. Provavelmente esses parlamentares não vão ter interesse em estar em um governo sem apoio no Congresso, que vai viver situação de muita instabilidade.

Com todos os seus problemas, o governo Temer ainda é um governo com mais possibilidades de ser estável do que seria um redivivo governo Dilma.

O governo Temer seguirá sob pressão dos grupos que enxergaram no impeachment um processo ilegítimo, mas isso é normal em um regime político-democrático. Governos governam assim, não acho que isso vá gerar instabilidade. A situação de Dilma era mais complicada, com minoria no Congresso, crise econômica e uma presidente com baixa popularidade, sem condições de liderar o governo.”




Fonte: Nexo
Por: Lilian Venturini 
Link original: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/05/29/Dilma-tem-alguma-chance-de-retomar-o-mandato-na-vota%C3%A7%C3%A3o-final-do-Senado



Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.

Últimas Notícias

Veja Mais

Envie Sua Notícia

Envie pelo site

Envie pelo Whatsapp

Jornal do Estado MS © 2021 Todos os direitos reservados.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO, transmissão e redistribuição sem autorização expressa.

Site desenvolvido por: