Interior / Terenos
Prefeito de Terenos é preso em operação que revela fraudes em licitações e cobrança de propina
Henrique Wancura Budke (PSDB) teria comandado esquema em obras públicas; investigação aponta enriquecimento de 691% em quatro anos
15/09/2025
12:00
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
A investigação que levou à prisão do prefeito de Terenos, Henrique Wancura Budke (PSDB), no último dia 9, expôs um esquema de fraudes em licitações e cobrança sistemática de propinas que, segundo o Ministério Público Estadual (MPE), transformou o processo licitatório em mera formalidade — uma “coisa para inglês ver”.
A decisão judicial, assinada pelo desembargador Jairo Roberto de Quadros, determinou a prisão do prefeito, de 15 empresários e agentes públicos, além da quebra de sigilo de contas da prefeitura e de 58 pessoas físicas e jurídicas investigadas.
O caso mais emblemático ocorreu em 2021, durante a licitação para reforma da Escola Municipal Rosa Idalina Braga Barboza. Empresários acertaram previamente com o prefeito o valor da obra, inicialmente estimado em R$ 2 milhões, mas reduzido por Budke para cerca de R$ 1 milhão.
A licitação aparentava ter três concorrentes — Angico Construtora, Bonanza e Tecnika —, mas a empresa Tecnika recebeu R$ 15 mil apenas para apresentar proposta fictícia. Além disso, um dos envolvidos, identificado como Cleberson, ficou responsável por preencher não só sua proposta como também a de empresas concorrentes, utilizando papéis timbrados alheios.
A prática, segundo o MPE, era recorrente e fazia parte de um esquema estruturado de direcionamento das concorrências.
De acordo com a investigação, o prefeito exigia propina de aproximadamente 7,5% do valor das obras.
Na reforma da escola da colônia Jamic, por exemplo, a obra inicialmente licitada em R$ 2,78 milhões terminou custando R$ 3,36 milhões após aditivos.
O MPE afirma que Budke recebeu R$ 255 mil em propina apenas nesse contrato.
Em outra ocasião, a empresa Tecnika, que simulou concorrência em 2021, venceu em 2024 o Pregão nº 006/2024, no valor de R$ 1,85 milhão, após receber de um aliado suporte para elaborar propostas de cobertura.
Os pagamentos de propinas eram organizados em planilhas de controle, com valores e datas, e parte dos recursos era direcionada a empresas de laranjas, como a de Eduardo Schoier, apontado como “testa de ferro” do prefeito.
O MPE também identificou crescimento patrimonial incompatível do prefeito.
Em 2020, Budke declarou ao TSE possuir R$ 776 mil em bens.
Em 2024, esse valor saltou para R$ 2,46 milhões, alta de 318%.
Considerando o valor real de mercado dos imóveis, a promotoria estima que o patrimônio do prefeito alcance R$ 6,14 milhões, crescimento de 691% em quatro anos.
Esse aumento é considerado incompatível com sua renda, já que, entre 2021 e 2025, o prefeito recebeu R$ 541 mil em salários líquidos.
A expressão “para inglês ver”, usada para caracterizar licitações de fachada em Terenos, tem origem no século 19, quando o Brasil criava leis contra o tráfico de escravos apenas para agradar a Inglaterra, mas não as aplicava efetivamente.
O prefeito tucano Henrique Budke permanece preso e pediu afastamento do cargo para se dedicar à defesa. Seus advogados alegam inocência.
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