Campo Grande (MS), Segunda-feira, 06 de Maio de 2024

ENTREVISTA

Rodrigo Castejon - GENERAL R3 conta sua história de vida e trajetória musical dentro do movimento Hip Hop

16/02/2023

16:45

ALESSANDRA PAIM

©DIVULGAÇÃO

Hoje vamos falar do hip hop que é mais que um estilo musical, um estilo de vida. Um movimento que cresceu durante a década de 70, desenvolvido pelos jovens das periferias que ganhou notoriedade pela forma de expressar a arte através do hip hop. Os jovens falam dos seus sentimentos, poesias, do estilo de vida, como lidar com a violência e até protestam a discriminação em geral por meio do movimento. Segue um breve resumo da origem do hip hop e seus principais pilares. O Hip Hop se tornou um dos gêneros musicais e influências culturais que mais se destacou no mundo. Ele surgiu na década de 70, após conflitos raciais nos Estados Unidos e movimentos como o Partido dos Panteras Negras. A imigração de jovens jamaicanos, trazendo a cultura dos Sound System para os guetos de Nova York, no Bronx. O Hip Hop surgiu como um movimento de cultura juvenil com a junção dos elementos de jovens negros latino-americanos nos guetos e centros urbanos. As ruas do Bronx se tornaram um local perigoso, dominado por gangues, usuários de drogas e o crime atuando ativamente. Isso se deu pelo esquecimento do poder público, nas ruas de Bronx, pelas casas abandonadas e destruídas nesse lugar. Diante do cenário, alguns jovens buscavam formas de sobreviverem, apostando na diversão por meio da arte. O jamaicano Clive Campbel, o Dj KoolHerc, driblando a situação atual do lugar, promoveu uma festa no bairro chamado de Blockpartie, em comemoração do aniversário da irmã. Ele agregou elementos que viriam a ser conhecidos como os pilares do hip hop: DJ’s, Rap, Grafite e Break. A AfrikaBambaata em 1973 funda a Zulu Nation que é uma organização com intuito de autoafirmação dos jovens, o objetivo era promover o combate da violência por meio da arte e dos 04 pilares do movimento hip hop para o tema: Paz, União e Diversão. Na década de 80, depois de 10 anos, o movimento hip hop aparece no Brasil representados pelos jovens negros paulistanos que usavam os pilares do hip hop para expressar vivências e relações sociais. O hip hop ganhou força com o b-boys e b-girls, que expressavam sua arte por meio do break. Posteriormente, na década de 90 o estilo Gangsta Rap ganha destaque nas periferias brasileiras, ganhou força, ocupando espaço além de festas, tornando-se um ponto de partida para refletir as relações sociais. Vale mencionar que o movimento hip hop consegue interagir com as massas, atuando no desenvolvimento cultural, social, crítico e intelectual, representando uma potente ferramenta de acesso de formação para a juventude. Atualmente a cultura global do hip hop aprimorou estilos musicais, arte, linguagem, dança, educação, política, moda, tecnologia, mídia e etc. O movimento continua desenvolvendo novas formas de arte que impactam a vida das novas gerações. Para entendermos mais a respeito do movimento hip hop a página Expressando com Alessandra entrevistou o rapper Rodrigo Castejon o General R3 pra falar tudo sobre o universo do hip hop. General R3 completa em março 26 anos como rimista, desde 95 no estilo hip hop, vai falar da sua carreira musical aqui no MS, da experiência que teve na situação rua, das conquistas e projetos em andamento, dos shows e eventos do General R3 e a importância do seu projeto para os jovens negros de periferias. Rodrigo muito obrigada pela entrevista concedida, parabéns pelo lindo projeto e sucesso sempre!

Segue a entrevista na íntegra:

Expressando com Alessandra Paim - Quem é Rodrigo Castejon?

Rodrigo_ é um cara que foi criado no campo que trabalha desde a infância no campo. E isso fez parte da lapidação do meu caráter junto ao Hip Hop. Ajudou a formação do caráter, ajudou no entendimento o que é a vida na minha forma de viver.

Expressando com Alessandra Paim - Como o HIP HOP entrou na sua vida?

Rodrigo_ o hip hop entrou na minha vida por uma mudança minha de uma cidade do interior chamado Patrocínio paulista pra Franca. Aos 14 mudei pra Franca e curiosamente, minha vó sempre dizia: “meu filho, não vá até a pracinha, é um lugar perigoso”. Essa praça se chamava Castelo Branco e sempre passava lá e via uma roda com muitos negros e a galera fazendo alguns movimentos do break. E aquilo me causava aquela vontade de conhecer mais. E como desde criança eu já sofria preconceito na escola por eu morar na fazenda, por ser muito pobre e isso fez com que eu ficasse muito fechado. Eu tinha uma visão do mundo fechado, era um radical fechado, eu via o mundo, mas eu não expressava, era eu no meu mundinho e nessa pracinha que todos falavam que era perigoso, foi onde eu encontrei com o hip hop.

Expressando com Alessandra Paim - Por que do nome General R3?

Rodrigo_ o nome General R3 veio por uma autonomia que eu decidir sobre a minha própria vida. Em determinado tempo eu passei por situação de rua, fiquei por um tempo, passei por muitas coisas. Comecei dançando break, sempre tive bandas e tentei de várias formas. E chegou num determinado momento eu falei: “cara, quer saber, eu tenho que ser o general da minha vida, eu tenho que saber o que eu quero, correr atrás dos meus objetivos e acima de mim, só Deus”. Isso me tornou mais teimoso, porém focado, eu tenho certeza do que eu quero e isso veio junto com o nome General e o R3 é de Rodrigo Castejon que ficaria General RC, porém, temos Roberto Carlos, que é o rei da música. Então, a letra C é a 3° palavra do alfabeto e aí ficou R de Rodrigo e 3 de Castejon que ficou General R3.

Expressando com Alessandra Paim - Conte um pouco dessa experiência como morador de rua e o que você tirou de lição desse ocorrido.

Rodrigo_ na verdade a situação rua me trouxe mais benefícios a respeito de ser um adolescente pobre, de estar na rua e conseguir ver de perto o que era bom e o que era mal. E com a formação que meu pai me deu, um pouco dessa cultura da época e o que o hip hop me ensinou. Fez com que eu entendesse aquele universo da rua pra eu não me perder. Eu trouxe ensinamentos, traumas. Eu sou um cara atento e sei que isso vem da situação rua, onde passamos por diversos problemas. Essa experiência traz um pouco dessa expertise, vamos dizer assim.

Expressando com Alessandra Paim - Festivais

Rodrigo_ participei de vários festivais. Encontro de Todas as Tribos, Feira Literária em Bonito, Som da Concha, participei de vários editais. Passei no Som da Concha. Fui um artista negro que passou em 1° lugar do show principal com o show chamado #ONEGÃOTÁBEM. Era um show voltado com a ideia de capacitar e elevar esperança pros jovens negros de periferia. Pra ele entender que ele também pode ocupar aquele lugar.

Expressando com Alessandra Paim - Autorais

Rodrigo_   creio que estou aproximadamente na casa dos 30 autorais.

Expressando com Alessandra Paim - Rodrigo, fale um pouco das suas composições. Qual a mensagem que o General R3 quer passar pro público?

Rodrigo_ sempre quis passar através das minhas letras é que eu não preciso mentir pra fazer o que eu escrevo. Conseguir levar esperança com essa verdade. A maioria das letras são coisas que acontecem ao meu redor. Tanto que tem muito de mim nas minhas letras. Tem uma letra que eu tenho, “Domingo de Tardezinha” quando eu escrevi, eu chorei muito. É uma música que de repente do público não tem a representatividade que tem pra mim. Por que eu falo da minha infância, o que eu passei. É o que tento passar, é isso passar esperança, sempre acreditar que a gente vai ter um futuro e lutar por esse futuro.

Expressando com Alessandra Paim - Shows no MS e fora

Rodrigo_   aqui o que mais teve relevância foi o Som da Concha, o Festival Casa do Samba, Feira Literária em Bonito foi muito importante, Festival Hora HAP em Dourados, Pedra no Sapato em Santos foi muito relevante pra mim. Tive vários eventos que foram muito marcantes na minha carreira.

Expressando com Alessandra Paim - Integrantes

Rodrigo_ hoje integrantes fixos: eu Rodrigo e a Vivi Calazans parte da banda e o Davi Galvão que é o guitarrista e agiliza o lado da produção.

Expressando com Alessandra Paim - Quais foram as suas maiores influências dentro do HIP HOP?

Rodrigo_ minhas influências vêm desde a adolescência: Racionais Mc's ainda na adolescência, gostava de um estilo chamado gangsta, uma vertente mais pesada do rap, um grupo chamado Álibi, Consciência Humana e na atualidade tenho ouvido muito Emicida, e desde sempre, consumido muito Tim Maia.

Expressando com Alessandra Paim - Discografia

Rodrigo_ tenho 02 CD’s gravados e algumas faixas nas plataformas digitais.

Expressando com Alessandra Paim - Projetos em andamento e futuro

Rodrigo_   esse ano vamos continuar com o show #onegãotabem e até março já vai sair meu novo projeto que é o “Cabeça de Nêgo”.

Expressando com Alessandra Paim - Como foi trazer o movimento HIP HOP aqui no nosso MS?

Rodrigo_ eu encontrei o hip hop daqui que é de uma forma diferente do hip hop de São Paulo. Pra mim foi algo muito gratificante a forma que a galera abraçou as minhas músicas. E sinceramente, Campo Grande que já amo de paixão e é um lugar onde tem o hip hop de primeira linha. Eu fico impressionado que a galera tem um jeito peculiar muito diferente de outras regiões. O Hip Hop daqui consegue ter essa peculiaridade.

Expressando com Alessandra Paim - Rodrigo o HIP HOP é um estilo musical já aceito pela sociedade ou ainda existe discriminação? Por que?

Rodrigo_ o hip hop além do estilo musical, ele é um estilo de vida. Ele vai ser como é o samba como é o funk. Eu creio que sempre vai existir essa discriminação porque a sociedade não consegue entender que é um estilo musical que preenche vidas. E o cara que está fazendo essa música, não tem condições de fazer uma faculdade de música. É o jeito dele de fazer a música e participar disso tudo. Na minha visão sempre vai existir essa discriminação.

Expressando com Alessandra Paim - Um sonho

Rodrigo_ ver todo mundo sentir a liberdade. Um sonho é conseguir levar a esperança através desse sonho de liberdade. Das pessoas entenderem porque é muito fácil quando a pessoa tem o senso de liberdade, não misturar com a libertinagem e esquecer a esperança.

Expressando com Alessandra Paim - Qual foi a maior dificuldade no início do General R3?

Rodrigo_ a maior dificuldade não foi só no início e se estende até hoje. Uma das dificuldades é não ter condições financeiras pra conseguir o projeto do jeito que eu quero. Porém, estou trabalhando, um passo de cada vez e um dia eu chego lá.

Expressando com Alessandra Paim - Fale a respeito do projeto musical “And The Black Family”.

Rodrigo_ o projeto The Black Family vem da Vivi Calazans que é uma pessoa que eu tenho carinho de irmão. Ela era back vocal de um grupo chamado Alfa Mc’s, eu achava um trabalho fantástico. E aconteceu que nos aproximamos e ficou essa amizade e acabamos gravando muitas músicas juntos. E esse projeto veio dessa união como uma família negra, a ideia é essa General3 e a família negra. A família negra se resume sobre esse relacionamento de irmãos com ela.

Expressando com Alessandra Paim - Um momento feliz

Rodrigo_ momento feliz foi bem próximo de um momento muito triste. Um dos momentos mais felizes que tive nesses últimos tempos foi o Som da Concha. E ele aconteceu uma semana após a minha mãe ter falecido. Então, eu estava triste pela perda da minha mãe e extremamente eufórico por ser o show da minha vida. Pra mim foi um momento muito feliz, momento marcante, eu olhar, estava com limitação de pessoas pra entrar, tinham 238 de pessoas que era o limite máximo eu olhei e ainda tinha gente no gramado. Isso pra mim foi muito gratificante, fiquei muito feliz.

Expressando com Alessandra Paim - Conte a respeito dos pilares do HIP HOP

Rodrigo_ os pilares do Hip Hop são: Graffiti, o MC que no caso, é o meu papel, que é o mestre de cerimônia, embora, eu não me coloco como mestre de cerimônia, eu acho um termo muito usado; então eu me apresento sempre como rapper mesmo. O DJ que é o cara que solta a batida e o break que é o dançarino. Esses são 04 pilares do Hip Hop. Na minha visão, os 4 são usados com muita consciência. E vamos dizer que a consciência seria o 5° pilar do Hip Hop, na minha concepção.

Expressando com Alessandra Paim - #NEGÃOTÁBEM

Rodrigo_   a ideia #negãotabem ela nasceu pra mostrar que o negro tá bem, empoderar esses jovens negros. O negãotabem não só que o General tá bem quer dizer que o negão está bem. Inclusive, eu falo na letra que eu remeti nesse termo fala: “E dizer que tô bem não quer dizer que tô rico é dizer que tô rindo na cara do desafio. Trago na veia, minha cor, o orgulho de onde veio, protesto amor, militante do bem”. Então, essa é a ideia que eu tento passar através do #negãotabem e nós fizemos o show #negãotabem com esse intuito, encorajar o negro, o pobre de periferia a ocupar os lugares, a estar nesses lugares. Mostrar a capacidade que tem dentro de um sonhador que está na periferia.

MENSAGEM

“Que todos possam ter mais carinho com a periferia. Olhar mais pras periferias. A gente acha que periferia são só nas grandes metrópoles, Campo Grande te periferia, tem muitas favelas em Campo Grande. Peço o olhar do povo pra esses lugares, peço olhar dos músicos pra esses lugares. Que olhem mesmo com intuito de ajudar, de influenciar de alguma forma através da arte pra que tirem talentos de lá e que levem benefícios pra aquele povo”, Rodrigo Castejon General R3.

 

REFERÊNCIAS DE PESQUISA

General R3 | Facebook

Rodrigo Castejon | Facebook

INSTAGRAM @GENERAL R3

Spotify – Se For Preciso

#EUsouMS Entrevista: General R3

Na Cadeira do DJ com o rapper General R3 - Rede Educativa MS (portaldaeducativa.ms.gov.br)

O Hip-Hop tem filosofia ou é só um movimento de rua qualquer? - MS em Movimento

https://www.youtube.com/@generalr3939

https://www.youtube.com/watch?v=WPkKqgPgbAM

https://www.youtube.com/watch?v=QpaWXuwfvwE&t=1302s

https://www.youtube.com/watch?v=zDWm6G-JxEM

https://www.youtube.com/watch?v=XJsaRVUEuUY

Hip Hop: conheça os principais nomes e a história do gênero (deezer-blog.com)

História do hip hop no Brasil: saiba tudo sobre o movimento (letras.mus.br)

Nascimento do hip-hop: como surgiu o gênero que mudou a música | VEJA (abril.com.br)

Hip Hop - InfoEscola

Hip hop – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

 


Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.

Últimas Notícias

Veja Mais

Envie Sua Notícia

Envie pelo site

Envie pelo Whatsapp

Jornal do Estado MS © 2021 Todos os direitos reservados.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO, transmissão e redistribuição sem autorização expressa.

Site desenvolvido por: