Campo Grande (MS), Quinta-feira, 28 de Março de 2024

Pílulas da Inteligência versus a Era da Burrice 

O outro lado da história 

18/03/2022

17:00

ALESSANDRA PAIM

©REPRODUÇÃO

Cresce o número de pessoas adeptas ao uso de medicamentos e estimulantes. O uso constante dessas substâncias tem a finalidade de aumentar a disposição, a memória, mais facilidade de lembrar o que foi estudado, a melhora do desempenho pra fazer provas de concursos, estar mais focado. Essas medicações rotuladas como “a pílula da inteligência” se tornou um apoio de todos os tipos de pessoas como estudantes, concurseiros, executivos, empresários esportistas e etc. Há retornos positivos com o uso da “pílula da inteligência” para a concentração dos estudos, com resultados satisfatórios. Em contrapartida, essas substâncias são prescritas exclusivamente para pacientes que apresentam certos transtornos como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), um distúrbio comportamental caracterizado por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. O uso inadequado do metilfenidato e de outros medicamentos dentro desse contexto para quem não apresenta nenhum dos diagnósticos citados acima podem causar efeitos colaterais graves e provocar dependência da medicação. Com esse mundo virado do avesso, correria, trabalho, casa, faculdade, filhos, as pessoas não tem aquela disposição, aquele tempo reservado pra estudar e sair bem numa prova, por exemplo e essas medicações “ajudam” aquela pessoa esgotada a ter foco, ter disposição, sem cansaço, sem sono, sem estresse pra estudar, pra trabalhar pra passar num concurso, numa OAB. Afinal de conta, quem não gostaria de passar em provas sem ter muito tempo pra estudar, trabalhar 08h, 12h e estar 100% disposto? Mas como sempre há o outro lado da moeda, nem tudo são flores e essas “supermedicações” não são recomendadas fora do quadro clínico já informado podendo até dependendo do organismo da pessoa, um efeito contrário do desejado. A Página Expressando com Alessandra Paim teve um super bate papo muito interessante com 02 excelentes profissionais da área da saúde o Psiquiatra Dr. Cristhian Sandim que falou toda a origem, causas, efeitos colaterais, toda a verdade sobre essa ilusão das “pílulas milagrosas que fazem as pessoas mais inteligentes” e a Psicóloga Clínica Dra. Aline Smaniotto que falou também das causas dessas medicações usadas inadequadamente e da importância da terapia para ajudar pacientes abandonar essas substâncias e se reorganizarem, principalmente o emocional. Meus agradecimentos a vocês por conceder essa maravilhosa entrevista e esclarecer tudo a respeito desses medicamentos, da importância e eficácia para os pacientes de diagnósticos precisos e alertas do uso indevido para aquelas pessoas fora do quadro clínico, das consequências e fatores internos e externos dessas substâncias. 

 Segue a Entrevista na íntegra 

Entrevista realizada com o Dr. Cristhian Sandim – Psiquiatra Adulto e Infantil. Seus atendimentos realizados no consultório no endereço rua Eduardo Santos Pereira,1659 – Centro. Contatos: 67 3023-3276/99237-0598. 

Expressando com Alessandra Paim - Do que é composta a substância metilfenidato? 

Dr. Cristhian – Inicialmente eu quero agradecer a jornalista Alessandra que me convidou para abordar um tema que é bastante discutido na sociedade que é o uso de algumas medicações utilizadas no tratamento para o Transtorno do Déficit de Atenção- TDAH e Hiperatividade. O metilfenidato ele é um estimulante do sistema nervoso central e o seu principal mecanismo é realizar o que a gente chama de recapitação de dopamina e noradrenalina. Que seria o aumento dos níveis dessas 02 substancias em determinadas áreas do cérebro. Que chamamos de córtex cerebral principalmente em regiões frontais e pré-frontais relacionados a uma dificuldade de memória, atenção e concentração. 

Expressando com Alessandra Paim - Para que serve essa medicação? 

Dr. Cristhian – é uma medicação indicada para o transtorno déficit de atenção e hiperatividade, além de ser utilizado também para o tratamento de narcolepsia. 

Expressando com Alessandra Paim - Há contraindicações para os pacientes que tomam? Quais? 

Dr. Cristhian – existem contraindicações para o uso do metilfenidato ou algumas recomendações para evitar o uso em determinadas condições clínicas. Quem apresenta um quadro de alergias associadas a substancias; é uma contraindicação para a maioria das medicações quando você tem uma alergia associada a um determinado fármaco. Para aqueles pacientes que sofrem de doenças da tireoide, principalmente hipertireoidismo que não tenha a sua doença controlada. Para pacientes com doenças cardíacas principalmente aqueles que tem uma insuficiência cardíaca congestiva ou aqueles que tem algum tipo de arritmia que leva a um risco de complicação da sua doença de base e para aqueles pacientes eu tem histórico de infarto agudo do miocárdio devem o uso da medicação ou se fizer deve ser feito com acompanhamento médico rigoroso. Pacientes que tem hipertensão arterial de difícil controle deve-se evitar o uso do metilfenidato porque essa substancia pode fazer com que seja elevado ou aumentado os níveis pressóricos do paciente. Outra contraindicação formal é o uso de um grupo de medicações chamados inibidores da monoamina oxidase que são substancias utilizadas para o tratamento de depressão. Se o paciente toma algum antidepressivo que usa alguma dessa substancia tem que consultar o médico porque essa medicação não deve ser tomada associada ao uso do metilfenidato. Para aqueles que possuem glaucoma é contraindicado também, o glaucoma pode evoluir com piora do quadro. Paciente que tem um tipo de tumor na glândula suprarrenal chamado feocromocitoma também é contraindicado o uso do metilfenidato. E uma outra contraindicação é a Síndrome de Tourette, se for utilizar o metilfenidato deve ser utilizado com muito cuidado porque pode piorar a presença de sintomas associados ao quadro que são os tiques vocais e tiques motores                                                           

Expressando com Alessandra Paim - Essa medicação é contínua? 

Dr. Cristhian - é de uso regular e contínuo porque como ele é usado para tratar um quadro chamado de TDAH o uso dessa medicação deve ser diário. 

Expressando com Alessandra Paim - Por que medicamentos como metilfenidato e outros são considerados como a “pílula da inteligência”? 

Dr. Cristhian – no Brasil nós temos 02 substancias que são associadas ao nome de pílulas da inteligência que são os psicoestimulantes o metilfenidato e a lisdexanfetamina. Na verdade, não existe uma pílula da inteligência, o que a medicação pode fazer é aumentar o nível de atenção e concentração da pessoa que está fazendo o uso e isso pode facilitar o aprendizado. Porém, não existe uma recomendação medica para fazer o uso dessa medicação para quem não tem os transtornos mencionados anteriormente. Para aqueles que utilizam a medicação como forma de estudo ou treino para estudar em uma prova de concurso não é recomendado pela Sociedade Brasileira de Medicina nem dos Conselhos Regionais de Medicina, não existe uma indicação clínica para o uso nesses casos. 

Expressando com Alessandra Paim - Porque algumas pessoas incluindo jovens que não apresentam nenhum diagnóstico preciso para o uso estão consumindo essa medicação? 

Dr. Cristhian – existe uma busca elevada de pessoas que não apresentam os quadros clínicos necessários para fazer o uso do metilfenidato e buscam o uso da medicação para a melhora da performance principalmente a melhora da performance cognitiva. Porém, o uso não recomendado pode trazer efeitos deletérios no curto e longo prazo. 

Expressando com Alessandra Paim - Quais as consequências/reações do medicamento para essas pessoas? 

Dr. Cristhian – o uso inadequado pode acarretar uma série de efeitos colaterais e efeitos a longo prazo. 

Expressando com Alessandra Paim – Como as pessoas conseguem comprar sem receita médica? 

Dr. Cristhian – esse medicamento ele é controlado pela vigilância sanitária do Município. Cada município tem a sua vigilância sanitária que expede um talonário específico, um talonário amarelo ao médico para que ele consiga prescrever essa medicação. Existe no Brasil um controle rigoroso sobre o uso dessa medicação. Infelizmente, algumas pessoas conseguem burlar de uma maneira ou outra tendo acesso a medicação e colocando a sua saúde em risco. 

Expressando com Alessandra Paim - Qual o perfil de pessoas que usam essa medicação que não apresentam nenhuma patologia? 

Dr. Cristhian – são aquelas pessoas que normalmente utilizam aquela substancia para trabalhar, estudar, pra aumentar o tempo de rendimento no trabalho. Pra conseguir ficar noites sem dormir, aumentar a sua performance cognitiva. Reafirmo mais uma vez, que é um risco porque essa medicação está sendo usada sem nenhum controle e o paciente pode vir até a desenvolver uma dependência relacionada a esse tipo de substancia. 

Expressando com Alessandra Paim - Há possibilidades de viciar na medicação? 

Dr. Cristhian – sim, o uso do metilfenidato ou da lisdexanfetamina em doses muito elevadas e sem acompanhamento clínico pode levar um risco de dependência. 

Expressando com Alessandra Paim - Além do metilfenidato quais são as outras substâncias consideradas pílula da inteligência? 

Dr. Cristhian – Conforme abordado anteriormente as 02 medicações utilizadas para o TDAH e Hiperatividade são metilfenidato ou da lisdexanfetamina. É importante ratificar que não existe a pílula da inteligência, o que essas medicações fazem é melhorar o tempo de atenção, o padrão de concentração daquele indivíduo. Importante destacar que essas medicações tem efeito limitado, cada medicação tem o efeito que pode durar de 04 horas, 10 horas ou até 12 horas ao longo do dia. E essa medicação perde o efeito assim que se encerra o mecanismo de ação daquela substancia.   

Expressando com Alessandra Paim - Futuramente estas substâncias serão liberadas pra todo mundo? 

Dr. Cristhian – o metilfenidato foi sintetizado em 1944 e em 1954 ele foi patenteado e em 1955 ele começou a ser comercializado nos EUA. A partir dos anos 60 essa medicação começou a ser comercializada em outros países. Importante dizer que mesmo sendo uma medicação antiga é uma medicação com uma eficácia indicada nos casos já relacionados. O uso difundido pra outros quadros não tem sido recomendada e não há perspectiva até o momento que seja indicado para outros transtornos. 

Expressando com Alessandra Paim - Como o Conselho Regional de Medicina do MS se posiciona quanto esse assunto? 

Dr. Cristhian – é a recomendação estritamente clínica para aqueles 02 diagnósticos. 

Expressando com Alessandra Paim - Dr. Cristhian já atendeu algum paciente que pediu esses medicamentos apenas para ajudar na concentração? Conte a respeito. 

Dr. Cristhian – sim alguns pacientes ou profissionais da saúde para obter a medicação para estudar e melhorar a sua atenção. Mas somos formadores de opinião e temos a responsabilidade de orientá-los para que essas medicações sejam utilizadas exclusivamente para os quadros clínicos específicos. 

Expressando com Alessandra Paim - Quais os efeitos colaterais a curto e longo prazo? 

Dr. Cristhian - dor de cabeça insônia, taquicardia, aumento da ansiedade, dor do abdominal, irritabilidade, hiporexia ou diminuição do apetite. Alguns pacientes podem apresentar algum emagrecimento e reações mais graves, como sintomas alucinatórios e presença de crises convulsivas para aqueles pacientes que tem histórico de epilepsia.  

MENSAGEM 

“Me coloco a disposição para eventuais dúvidas ou orientações. Agradeço de antemão a oportunidade de estar aqui, para tais esclarecimentos e possibilitar um debate um sobre o assunto. Obrigado a todos”, Dr. Cristhian Sandim Psiquiatra. 

Entrevista realizada com a Psicóloga Clínica Gestalt Terapêuta Aline Martins A. Smaniotto. Os atendimentos são na Clínica de Psicologia Atitude – rua Alegrete, 1391. Contato: (67) 98189-4909. 

Expressando com Alessandra Paim - O que você acha das “pílulas da Inteligência”? 

Aline_Aquino_ eu acho que esse nome está errado. Não deveria se chamar a pílula da inteligência, porque assim, esse nome faz com que cause curiosidades sobre o medicamento, podendo ocasionar grandes males tanto pela própria curiosidade das pessoas em geral quanto pela falta de informação também. 

Expressando com Alessandra Paim - Quais são os tipos de pessoas que usam a pílula da Inteligência? 

Aline_Aquino_ com esse fim “para aumentar a inteligência” pessoas que estão passando por algum processo de provas, concursos, vestibulares. 

Expressando com Alessandra Paim - Qual o motivo de uma pessoa que não apresenta nenhuma patologia mental fazer uso dessa substância? 

Aline_Aquino_ há uma reação de efeito colateral pra quem não apresenta nenhum diagnóstico de TDAH, por exemplo. A pessoa que toma esse medicamento, ela sente que a substancia causa uma turbinada no cérebro, causando um aceleramento cerebral, proporcionando um aumento de atenção, concentração, memória e também não cansando com longo tempo de estudo, por exemplo. 

Expressando com Alessandra Paim - Com o tempo como essa substância pode afetar a mente, o comportamento, a personalidade da pessoa? 

Aline_Aquino_ sim. Geralmente os medicamentos que turbinam o cérebro contem anfetaminas que é algo altamente viciante. Logo a pessoa que faz uso desses medicamentos sente o seu rendimento aumentar, visto que quando param de tomar o seu rendimento cai fazendo-se assim um ciclo. E se por acaso, parar o uso corre-se também o risco de uma crise de abstinência. As anfetaminas alteram o comportamento deixando a pessoa mais alerta e em altas doses, altera também o comportamento, pode ser tornar agressivo. 

Expressando com Alessandra Paim - Você acha que uma pessoa que usa desse medicamento é alguém insegura? Fale a respeito. 

Aline_Aquino_ não necessariamente inseguros, mas que as vezes está cansado de receber negativo de provas e concursos. Eu convido a todos a fazerem terapia, porque na terapia é um ambiente próprio para trabalhar as emoções. Nem tudo é inteligência ou capacidade, as vezes é preciso organizar o emocional para se alcançar bons resultados. 

Expressando com Alessandra Paim - Já atendeu algum paciente que usa da medicação pra ficar “mais inteligente”? 

Aline_Aquino_ já atendi pessoas que já fizeram uso dos medicamentos para se saírem bem nas provas/concursos. Mas que depois que vieram no consultório, conversamos sobre. Nós vimos a necessidade de não continuar o uso. A conscientização da pessoa sobre o uso inadequado do medicamento, ela acontece aqui na terapia, porque se não tem uma condição de um diagnóstico não tem a necessidade de fazer esse uso. É simplesmente às vezes, organizar o tempo, a rotina e também organizar o emocional. 

Expressando com Alessandra Paim - Essas pessoas que usam dos medicamentos pra ter uma boa concentração, ter um ótimo desempenho em provas são pessoas que tem a mente preguiçosa e optaram pelo o caminho mais fácil? 

Aline_Aquino_ eu não diria uma pessoa preguiçosa, mas diria que as pessoas fazem uso para poupar tempo, mas esse tempo pode muitas vezes, ter consequências futuras no organismo. Será que realmente vale a pena? Fica aberto esse questionamento... 

Expressando com Alessandra Paim - O que poderia ser feito para cessar o consumo dessas substâncias? 

Aline_Aquino_ na verdade eu acredito que deve ter a conscientização dos profissionais, visto que aqui no Brasil é uma medicação controlada. Quem deve realmente ter a consciência e fazer todo o questionamento com o público são esses profissionais que acabam receitando esse medicamento sem um diagnóstico certeiro. 

Expressando com Alessandra Paim - Num futuro próximo você acha que as pílulas serão liberadas pra todo mundo? 

Aline_Aquino_ eu acredito que sim, hoje existem muitas pesquisas pra tudo. Se a pílula for estudada com afinco, haverá descobertas ótimas com a mesma substância ou substancias parecidas, sem efeitos colaterais, podendo assim somar no aprendizado e também auxiliar na qualidade de vida das pessoas. 

MENSAGEM 

“Eu quero agradecer imensamente o convite da Alessandra, somos parceiras nos assuntos relevantes aos conhecimentos em geral, incluindo os conhecimentos emocionais. Me coloco a disposição para qualquer dúvida,” Aline Martins A. Smaniotto, Psicóloga Clínica Gestalt Terapeuta. 

REFERÊNCIAS DE PESQUISA 

Uso abusivo de Ritalina para aumentar concentração é perigo para a saúde - Gerais - Estado de Minas 

Ritalina e concursos: O efeito da droga nos estudos (acheconcursos.com.br) 

A pílula da inteligência | Super (abril.com.br) 

Hipolabor ensina: Pílula da inteligência funciona? 

Quais são as 'drogas da inteligência' e o que aconteceria se todos recorressem a elas para 'turbinar' o cérebro | Ciência e Saúde | G1 (globo.com) 

A pílula da Inteligência que ajuda a estudar mais, você conhece? (sanarsaude.com) 

Pílulas da Inteligência | Ritalina | ft. Dr. José Hamilton - YouTube 

Existe a pílula da inteligência? Neurologista Saulo Nader explica o tema - YouTube 

Britânico relata 'pesadelo' em experiência com uso de 'pílula da inteligência' - BBC News Brasil 

As "pílulas da inteligência": pontos de vista sobre a medicalização do aprimoramento cognitivo - Deviante 

A pílula da Inteligência - Furtado Leite Desenvolvimento de Sistemas Criação de Sites 

Precisamos das Pílulas da Inteligência? (jusbrasil.com.br) 

 

*Jornalismo Independente


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