Marcas do lugar são a preservação e abundância de animais silvestres.
Região conta com pousadas e mirantes para contemplação da natureza.
Ninhais de aves pantaneiras, às margens da Estrada Parque (Foto: Claudia Gaigher/TV Morena)
Em seus 120 quilômetros de extensão pelo Pantanal sul-mato-grossense, a Estrada Parque oferece aos visitantes uma oportunidade prática e econômica para observar a flora e a fauna da região. A contemplação é a marca principal do atrativo, e o contato com uma infinidade de animais silvestres torna o passeio ainda mais especial.
Para se alcançar o início do trecho, o turista tem duas opções. A primeira é sair de Corumbá, a 444 quilômetros de Campo Grande, e ingressar na MS-228. A segunda é viajar de carro por 300 quilômetros a partir de Campo Grande, em direção oeste pela rodovia BR-262, que é toda asfaltada. Após cruzar as cidades de Aquidauana, Anastácio e Miranda, chega-se ao ponto denominado Buraco das Piranhas, em um entroncamento com a rodovia MS-184.
Quando esteve pela primeira vez na Estrada Parque, sete anos atrás, o consultor tributário carioca Ricardo Velloso, de 47 anos, morava havia seis meses em Campo Grande e desconhecia o passeio. “Nunca imaginei que pudesse ver tantos bichos. Tinha de todo o tipo. Paca, capivara, jacaré, onça, seriema, arancuã, tamanduá, lobinho, macaco, quati, cervo. Até então, eu só via animais silvestres no zoológico”, comenta.
Os meses de inverno coincidem com a vazante do Pantanal e são considerados os mais propícios à visitação, pois a fauna se mostra mais abundante. Nesse período, é comum ver peixes ficarem presos nos canais de água e predadores fazendo um verdadeiro banquete. Velloso lembra que levou cerca de quatro horas para percorrer a Estrada Parque na época de seca. “Lá, o objetivo não é andar rápido, e sim, contemplar a natureza. A pessoa deve estar com tempo, ir devagar e descompromissadamente”, diz.
Em qualquer época do ano, o passeio deve ser feito preferencialmente a bordo de um veículo traçado, já que o viajante pode se deparar com terrenos alagados. Os meses de janeiro a junho são caracterizados pelo regime de chuvas na região, e uma travessia nessa época pode levar o dia inteiro, dependendo das condições viárias. Existem várias pousadas ao longo da estrada, caso o viajante precise pernoitar.
Contato com animais
De acordo com a Polícia Militar Ambiental, a região da estrada está em ótimas condições de preservação, o que garante a presença constante da fauna. Mas o visitante também precisa estar consciente de seu papel. A Polícia Militar Ambiental alerta que apanhar animais silvestres sem autorização, além de ser crime ambiental, representa um perigo. "Mesmo parecendo mansos, eles ainda têm instintos e podem atacar caso se sintam acuados. O melhor mesmo é contemplar", diz o major Ednilson Queiroz.
A Estrada Parque conta com apenas um posto de combustível, a cerca de 7 quilômetros a partir da BR-262. Uma dica é abastecer o tanque e conferir os últimos acertos do veículo antes de seguir em frente. Pelo caminho é possível encontrar alguns bolichos (pequenas casas comerciais) que oferecem lanches e refeições. Corpo e mente também devem estar preparados para a viagem, pois na maior parte do tempo faz calor intenso no Pantanal. A sensação térmica pode chegar aos 50 graus nos dias mais quentes.
Logo no início da viagem, o visitante tem a oportunidade de encontrar bandos de ariranhas, parentes das lontras. Surgiu daí o nome da localidade que fica às margens do rio Miranda: Passo do Lontra. A ariranha está em perigo de extinção, mas no Pantanal sul-mato-grossense encontra refúgio. Estima-se que haja uma população de 5 mil animais da espécie vivendo nas planícies alagadas.
Além de servir a interesses turísticos, a estrada é a principal rota de escoamento da produção pecuária das fazendas da região. Não são raras as vezes em que o turista interrompe a viagem por alguns instantes para que as comitivas de pantaneiros, peões que conduzem o gado, atravessem com rebanhos que variam de 200 a 2 mil cabeças.
Longe de ser um transtorno, a passagem do tropel produz até cenas curiosas, como lembra Velloso. “Teve um estouro da boiada, dois bois caíram no rio e o peão abandonou os animais. Perguntei o porquê disso em um bolicho. Disseram que era normal, e que se o boi conseguisse sair, tudo bem. A água era rasa e os animais saíram de lá”, conta o consultor.
O traçado da Estrada Parque ajuda a contar um pouco da história da região. O marechal Cândido Rondon projetou ali uma linha telegráfica no fim do século XIX, e a casa do telégrafo, construída em palafita no Porto da Manga, resiste ao tempo. A rodovia também servia como única ligação viária entre Corumbá e Campo Grande até a década de 1980, quando a BR-262 foi implantada.
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Pausa na viagem para contemplar a capivara (Foto: Ricardo Velloso/Arquivo pessoal) |
Em todo o trajeto, o viajante irá cruzar por 72 pontes de madeira. Uma ponte de concreto está em construção no Passo do Lontra. Há pelo menos nove mirantes em que se pode observar a paisagem e obter informações sobre as espécies da fauna e da flora pantaneiras.
O turista poderá visitar ainda a comunidade do Porto da Manga, onde cerca de 40 famílias ribeirinhas vivem basicamente da pesca. É nesse ponto que acontece a travessia de balsa sobre o rio Paraguai. No trecho final, a estrada passa ao lado do maciço do Urucum, onde estão as maiores jazidas de manganês e bauxita da América Latina.
O consultor recomenda a visita à Estrada Parque pela simplicidade do passeio e pela riqueza natural à disposição do turista. “A pessoa tem de se conceder a fazer essa viagem pelo menos uma vez na vida. É um local extremamente rústico, quase um deserto, mas encantador. Senti como se tivesse sido colocado lá pelas mãos de Deus. Foi uma experiência fantástica”, afirma.
Ameaçadas de extinção, as ariranhas encontram refúgio no Pantanal (Foto: Claudia Gaigher/TV Morena)
Fonte: g1
Por: Hélder Rafael-Do G1 MS