Política / Justiça
Cármen Lúcia afirma que Judiciário ainda é machista, denuncia feminicídios e cobra ações contra violência às mulheres
Única mulher no STF, ministra critica baixa representatividade feminina, aponta barbárie nos assassinatos e defende mais mulheres na política, tecnologia e Justiça
09/12/2025
09:00
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, afirmou nesta segunda-feira (8) que o Judiciário brasileiro ainda é conservador, machista e sexista, ao mesmo tempo em que fez um duro alerta sobre a escalada dos feminicídios no país e cobrou ações efetivas da sociedade e das instituições contra a violência de gênero.
A declaração foi feita durante o recebimento do Prêmio Todas 2 – Folha/Alandar, homenagem concedida pela Folha de S.Paulo, em parceria com a consultoria Alandar, em reconhecimento à sua trajetória pública na defesa da democracia, da igualdade e da cidadania.
Em seu discurso, Cármen Lúcia destacou a necessidade de ampliar a presença feminina nas instâncias de poder do Judiciário:
“É preciso que a gente tenha ciência e sensibilidade para saber que nós temos mulheres de notável saber jurídico, com reputação elevada, e que querem, podem e devem contribuir para uma perspectiva verdadeiramente democrática e igualitária no Judiciário e no Supremo Tribunal Federal.”
Atualmente, Cármen Lúcia é a única mulher em exercício no STF. Em toda a história republicana do Brasil, apenas três mulheres integraram a Corte: Ellen Gracie, Rosa Weber (ambas aposentadas) e a própria ministra.
Mesmo em um evento voltado à valorização das mulheres, a ministra fez um discurso firme ao abordar a violência de gênero no país:
“No Dia da Justiça, as injustiças contra mulheres no Brasil atingiram patamares que não são apenas de contrariedade ao direito, mas de desumanidade, falta de civilidade e indignidade.”
Cármen Lúcia foi ainda mais direta ao tratar dos assassinatos de mulheres:
“Nós precisamos tomar atitudes, como sociedade, para dar um basta nessa matança de mulheres. Não é mais possível continuar assistindo mulheres sendo assassinadas e violentadas.”
Segundo a ministra, os impactos da violência atingem também as crianças:
“Neste ano, são quase 700 crianças órfãs. Muitas viram seus pais ou padrastos mutilarem ou matarem suas mães na frente delas. Isso é a negação da civilização. É um ato de barbárie.”
A ministra também criticou a sub-representação das mulheres na política. Apesar de as mulheres representarem 52% do eleitorado brasileiro, os números no Parlamento ainda são considerados críticos:
“Nós temos a pior representação no Congresso Nacional em termos de números. Em quantidade, somos uma das piores representações nas Américas.”
Ao abordar simbolicamente a violência histórica contra mulheres, Cármen Lúcia citou o poeta Carlos Drummond de Andrade, ao relembrar o caso de Ângela Diniz:
“Aquela moça continua sendo assassinada todo dia e de diferentes maneiras.”
Tema central do Prêmio Todas 2 deste ano, a presença feminina na tecnologia também foi alvo de críticas da ministra. Como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no biênio 2024–2026, ela revelou dados preocupantes:
“Acabamos de fazer uma das fases de auditoria das urnas eletrônicas e, das quase 140 propostas apresentadas, apenas 13 eram de mulheres.”
Cármen Lúcia também ressaltou a importância da imprensa livre nas eleições de 2026 e lamentou as fraudes nas cotas de gênero, que distorcem a participação feminina na política.
Ao encerrar o discurso, fez um apelo à união:
“É preciso que nós continuemos juntas. Se há muitas lágrimas e muitas feridas a curar, é urgente que a gente faça isso juntas.”
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