Política / Segurança Pública
Relator da CPI do Crime Organizado alerta: equiparar facções a terrorismo pode “matar investigações”
Senador Alessandro Vieira (MDB-SE) diz que medida levaria processos da Justiça estadual para a federal e prejudicaria o combate ao crime
07/11/2025
13:00
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
O relator da CPI do Crime Organizado, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), alertou nesta sexta-feira (7) que a proposta de equiparar facções criminosas ao terrorismo pode prejudicar investigações em andamento e enfraquecer o combate ao crime organizado no país.
Em entrevista à Agência Brasil, o parlamentar — que é delegado da Polícia Civil há 20 anos — afirmou que a simples mudança de classificação jurídica transferiria os processos da Justiça estadual para a federal, o que poderia desmobilizar equipes especializadas e interromper trabalhos de longa data.
“A mera transformação de facção criminosa violenta em terrorismo vai fazer com que os processos criminais dessas ações migrem da Justiça estadual para a federal, e isso significa matar as investigações, jogar fora um conhecimento acumulado por profissionais qualificados por anos no combate ao crime grave”, destacou o senador.
Alessandro Vieira reconhece que é possível endurecer o tratamento penal das facções, equiparando-as parcialmente ao terrorismo em relação ao tamanho das penas e ao regime de cumprimento, desde que se mantenha cautela jurídica e técnica.
“É possível equiparar facções com terrorismo para fins de pena, mas com os cuidados técnicos necessários para não jogar fora todo um trabalho feito”, ponderou.
Para o relator, decisões tomadas por impulso ou “na correria” não produzem resultados eficazes. Ele defende debates técnicos e convergência legislativa no Congresso para agravar penas e fortalecer o sistema prisional, sem comprometer investigações já estruturadas.
O senador também criticou o uso recorrente das Forças Armadas em operações urbanas de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), classificando essas ações como ineficientes e midiáticas.
“Tivemos várias intervenções em território urbano e os resultados foram mínimos e temporários”, disse.
Por outro lado, ele defendeu atuação estratégica dos militares nas fronteiras, com foco em restringir o acesso de armas e drogas, reduzindo o poder do crime organizado.
“Cada um no seu quadrado, com liderança política da União e integração. As Forças Armadas têm papel essencial no controle das fronteiras, não em operações urbanas”, reforçou.
Vieira também sugeriu flexibilizar regras fiscais para permitir investimentos estruturantes em segurança pública. Ele defendeu que o setor receba tratamento orçamentário similar ao da saúde e da educação, considerando o impacto social da criminalidade.
“Um país que gasta R$ 5 bilhões para financiar a eleição tem dinheiro para defender a vida e a segurança do cidadão. É questão de prioridade política”, afirmou.
O relator destacou que a CPI pretende propor um Plano Nacional de Segurança Pública pactuado entre União, estados e municípios, com financiamento estável e metas de longo prazo.
Um dos focos da investigação será o avanço do crime organizado na economia legal, como o setor de combustíveis. Segundo Vieira, as facções têm ampliado sua presença em mercados formais por meio de lavagem de dinheiro e empresas de fachada.
“O segmento dos combustíveis chamou mais atenção, mas há infiltração em várias áreas da economia formal. Vamos criar travas legislativas para reduzir o interesse do crime nesses setores”, explicou.
Ele citou projetos de sua autoria que visam fechar brechas para lavagem de dinheiro via postos de gasolina, além de reforçar controles fiscais e bancários.
Vieira afirmou que não apoia a convocação de chefes de facções presos pela CPI, como sugeriram alguns senadores.
“Não há por que dar palco para bandido. Eles não trarão informações úteis e ainda podem usar o espaço para fortalecer o crime”, disse.
O relator defende que a comissão concentre esforços em identificar fluxos financeiros, mapear redes de influência e propor reformas no sistema prisional, considerado por ele um ponto central de fragilidade do Estado.
Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.
Leia Também
Leia Mais
CNPJ Alfanumérico será lançado em 2026 com promessa de reduzir burocracia e ampliar segurança fiscal
Leia Mais
Justiça Eleitoral realiza mutirão neste sábado no Nova Lima para regularização de títulos e biometria
Leia Mais
CNJ conclui inspeção no TJMS e destaca boas práticas, eficiência e espírito colaborativo
Leia Mais
Funsat promove plantão de vagas durante o festival Cidade da Juventude neste fim de semana
Municípios