Geopolítica / Mineração
Terras raras colocam Brasil no centro da disputa global por minerais estratégicos
Reservas brasileiras despertam interesse dos EUA em meio ao tarifaço de Trump e reforçam papel geopolítico do país na transição energética
25/07/2025
08:00
DA REDAÇÃO
©REPRODUÇÃO
O Brasil entrou definitivamente no radar das potências globais por um ativo estratégico: suas reservas de terras raras, um grupo de 17 elementos essenciais para a indústria de alta tecnologia, defesa e transição energética. Segundo o Ministério de Minas e Energia, o país possui a segunda maior reserva mundial, o que equivale a cerca de 25% do território nacional com potencial geológico.
A disputa pelos minerais se intensificou com a tensão diplomática entre o Brasil e os Estados Unidos, agravada pelas tarifas impostas por Donald Trump. O governo Lula recebeu sinalizações de que os EUA querem negociar acesso direto aos recursos minerais brasileiros, o que inclui lítio, nióbio e terras raras. Em resposta, o presidente foi enfático: “Aqui ninguém põe a mão”.
As terras raras são cruciais para a fabricação de:
Ímãs permanentes usados em turbinas eólicas, motores de carros elétricos, satélites e aviões de caça;
Equipamentos eletrônicos como smartphones, TVs, LEDs e câmeras digitais;
Sistemas de defesa com telêmetros a laser e radares.
Apesar de estarem espalhadas pelo planeta, são encontradas em concentrações muito pequenas, o que encarece a extração. Por isso, a China detém 70% da produção mundial, centralizando também o refino e a cadeia industrial — um monopólio que acendeu o alerta no Ocidente.
As reservas brasileiras são cada vez mais cobiçadas. O Instituto Brasileiro de Mineração confirmou que o encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, demonstrou interesse formal em firmar acordos para acesso a esses minerais.
Além das reservas em solo continental, como as identificadas na Bacia do Parnaíba (MA, PI, CE) e em Minaçu (GO) — esta última, única fora da Ásia a produzir comercialmente minerais estratégicos — o Brasil reivindica soberania sobre a Elevação do Rio Grande (ERG), formação submersa do tamanho da Espanha localizada a 1.200 km da costa do RS.
Estudos da USP apontam que a ERG possui solo com propriedades geológicas semelhantes às do interior de São Paulo e é rica em minerais estratégicos.
A supremacia da China, tanto na produção quanto no refino, coloca os EUA e a União Europeia em situação de dependência:
80% a 100% das terras raras importadas por países europeus vêm da China;
Para terras raras pesadas, a dependência chega a 100%.
Isso levou o Ocidente a criar estoques estratégicos e buscar alternativas confiáveis — como o Brasil — para garantir acesso contínuo.
Além da posição geográfica privilegiada, o Brasil tem vantagens estratégicas:
Matriz energética limpa
Tradição mineradora consolidada
Estabilidade institucional
Corpo técnico qualificado
Mesmo assim, o governo federal sinaliza cautela. O presidente Lula criticou abertamente o interesse norte-americano e alertou que o Brasil não abrirá mão de sua soberania sobre os minerais que são chave para a revolução tecnológica do século 21.
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