Política e Justiça / Meio Ambiente
Congresso aprova projeto que flexibiliza licenciamento ambiental e gera alerta sobre retrocessos ecológicos
Texto cria licença especial para obras estratégicas, dispensa exigências para agronegócio e ignora terras de comunidades tradicionais; ambientalistas falam em maior retrocesso desde a ditadura
17/07/2025
01:55
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
Por 267 votos a 116, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira (17) o projeto de lei que enfraquece as regras do licenciamento ambiental no Brasil. A proposta, que tramitava há 21 anos no Congresso, agora segue para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que pode vetar trechos do texto.
O projeto cria novas modalidades de autorização, amplia o uso de autodeclarações e dispensa o licenciamento para atividades como ampliação de estradas, obras do agronegócio e estações de saneamento. Ambientalistas e entidades da sociedade civil apontam riscos graves para o meio ambiente e para os direitos de comunidades tradicionais. O governo está dividido: enquanto o Ministério do Meio Ambiente, comandado por Marina Silva, é contrário à proposta, as pastas da Agricultura e Minas e Energia são favoráveis.
“O projeto é uma tragédia ambiental, social e econômica”, afirmou a deputada Duda Salabert (PDT-MG).
“É o maior retrocesso legislativo desde a ditadura”, denunciou o Observatório do Clima.
Licença Ambiental Especial (LAE): autoriza obras estratégicas mesmo com grande impacto ambiental. O governo federal poderá conceder licenças em até um ano, por decreto presidencial.
Dispensa de licenciamento: para ampliação de estradas, atividades agropecuárias, estações de tratamento de água e esgoto e pequenas barragens.
Autodeclaração nacionalizada: autorizações automáticas, via internet, para projetos de médio porte com potencial poluidor, com base na palavra do empreendedor.
Renovação automática de licença: o empreendedor poderá renovar a licença pela internet, desde que o projeto não tenha mudado de porte ou regras ambientais.
Desmonte da Lei da Mata Atlântica: dispensa autorização do Ibama para desmatamento, transferindo o poder de decisão para estados e municípios.
Mineração de alto risco: exclui exigência de licenciamento pelo Conama, transferindo competência a órgãos estaduais.
Ignora terras não homologadas: áreas indígenas e quilombolas não oficializadas ficam fora da análise ambiental, permitindo obras nesses territórios.
Um estudo do Instituto Socioambiental (ISA) aponta que, com as novas regras, cerca de 18 milhões de hectares de Terras Indígenas (TIs), territórios quilombolas (TQs) e Unidades de Conservação (UCs) podem ser excluídos do processo de licenciamento. Isso “apagaria” 259 TIs e mais de 1.500 TQs do radar de proteção ambiental.
“O Estado brasileiro segue omisso na demarcação dessas terras, e agora retira delas qualquer proteção legal contra obras de alto impacto”, alerta o Observatório do Clima.
Durante a votação, houve bate-boca entre os deputados Célia Xakriabá (Psol-MG) e Kim Kataguiri (União-SP), que trocaram ofensas em plenário. A sessão foi interrompida e a Polícia Legislativa precisou ser acionada.
“Esse deputado estrangeiro deveria pedir perdão aos povos indígenas”, disse Xakriabá.
“Tem gente que faz cosplay de indígena”, respondeu Kataguiri.
A aprovação foi comemorada por setores da bancada ruralista e da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), que defendem que o projeto traz “segurança jurídica” e “previsibilidade regulatória”.
A nova Licença Ambiental Especial (LAE) pode acelerar a liberação para projetos polêmicos, como a exploração de petróleo na Margem Equatorial, na foz do Rio Amazonas. O senador Davi Alcolumbre (União-AP) articulou a inclusão do dispositivo no texto. O presidente Lula também apoia a exploração, apesar das recomendações do Ministério Público Federal (MPF) e de ambientalistas.
Segundo a ANP, a região pode conter mais de 30 bilhões de barris de petróleo.
Retirada a dispensa de licenciamento em calamidades públicas
Restabelecida a dispensa para pontos de reciclagem
Removido o prazo de 24h para notificação prévia de fiscalizações
Os comentários abaixo são opiniões de leitores e não representam a opinião deste veículo.
Leia Também
Leia Mais
Com protagonismo na CCJR, Caravina encerra semestre com 111 proposições e projetos estratégicos para MS
Leia Mais
Zé Teixeira encerra semestre com R$ 3,5 milhões em emendas e avanços em obras estruturantes em MS
Leia Mais
Desapega CG transforma Campo Grande na capital do consumo consciente com 15ª edição no Parque Ayrton Senna
Leia Mais
Nelsinho Trad conquista R$ 1,9 milhão para iluminação pública e esporte em cidades de MS
Municípios