Política / Cidades
Ex-diretor do Consórcio Guaicurus diz que ônibus sucateados não oferecem risco, mas admite colapso no transporte coletivo de Campo Grande
Depoimento à CPI do Transporte revela impasse com a prefeitura e recusa na renovação da frota até reequilíbrio financeiro
16/06/2025
20:45
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
Em depoimento prestado nesta segunda-feira (16) à CPI do Transporte Coletivo de Campo Grande, o ex-diretor-presidente do Consórcio Guaicurus, João Rezende, afirmou que, mesmo com a frota circulando com prazo de validade vencido, os ônibus não oferecem risco à segurança dos passageiros.
“Idade do ônibus não significa risco. Se fosse, não rodariam”, declarou. A afirmação gerou indignação dos parlamentares, especialmente diante das constantes reclamações da população sobre superlotação, veículos quebrados e condições precárias.
Rezende foi ouvido na condição de investigado e deixou claro que o Consórcio não pretende renovar a frota enquanto a prefeitura não promover o reequilíbrio financeiro do contrato, firmado desde 2012. Segundo ele, os prejuízos começaram no período da pandemia, agravados pela evasão de usuários para aplicativos de transporte e outros meios de locomoção.
O ex-diretor alegou que o Consórcio Guaicurus está à beira do colapso, citando inclusive a falta de repasses de recursos do próprio governo do Estado, destinados à cobertura da gratuidade dos estudantes da rede pública estadual.
“Nosso patrimônio está sendo dilacerado, está sendo depreciado pela inoperância da prefeitura. Enquanto não houver o reequilíbrio econômico do contrato, não vamos comprar ônibus”, declarou Rezende.
Diante de perguntas da vereadora Ana Portela, relatora da CPI, Rezende se recusou a responder e permaneceu calado, respaldado por seu advogado. Ana questionou como a empresa, que registrou lucros de R$ 68 milhões entre 2015 e 2019, chegou a alegar prejuízo.
“Se tiveram tanto lucro, onde está o planejamento? Como explicam um déficit tão repentino?”, questionou a vereadora, sem resposta.
Quando abordado pelo vereador Maicon Nogueira, o ex-diretor voltou a falar e reforçou que o problema central é a falta de repasse e de reequilíbrio do contrato pela prefeitura.
Questionado pelo vereador Jr. Coringa sobre as recorrentes superlotações, Rezende respondeu que esse é um problema de conhecimento público e que cabe à Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) fazer o controle do fluxo e da quantidade de ônibus nas linhas.
Apesar de ter saído oficialmente da presidência do Consórcio no início de 2025, Rezende admitiu que segue como membro do Conselho Administrativo da empresa, o que contradiz sua declaração inicial de que não teria mais vínculos diretos.
Durante a sessão, também foi ouvido o diretor jurídico-administrativo do Consórcio Guaicurus, Leonardo Dias Marcello, que confirmou que a concessionária não possui seguro de vida e nem dos veículos. Segundo ele, o custo elevado do seguro inviabiliza a contratação.
“Foi uma medida de contingenciamento financeiro”, justificou.
Marcello ainda afirmou que, apesar dos problemas operacionais, o Consórcio não pode rescindir o contrato por conta própria. Isso só poderia ocorrer mediante uma ação judicial longa e, até decisão final, a empresa seguiria obrigada a prestar o serviço.
Frota envelhecida, com maioria dos ônibus fora do prazo contratual;
Superlotação em horários de pico;
Falta de seguro de vida e de veículos;
Alegações de desequilíbrio financeiro, mesmo após anos de lucro;
Supostos atrasos de repasses da prefeitura e do governo do Estado;
Pressão para reequilíbrio econômico como condicionante para renovação da frota.
A CPI do Transporte, presidida pelo vereador Jr. Coringa, segue com oitivas e promete aprofundar as investigações sobre os contratos, a saúde financeira do Consórcio e as responsabilidades da prefeitura na fiscalização e gestão do sistema.
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