Política / Justiça
Tornozeleira antecipa afastamento de Bolsonaro e acelera disputa por sucessor em 2026
Medidas do STF ampliam pressão sobre o PL e aliados, enquanto bolsonarismo tenta se reorganizar diante da inelegibilidade do ex-presidente
20/07/2025
07:15
DA REDAÇÃO
©DIVULGAÇÃO
As medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — incluindo uso de tornozeleira eletrônica, proibição de usar redes sociais e restrição de deslocamentos — anteciparam um cenário que muitos aliados esperavam apenas para os próximos meses: o afastamento forçado do ex-presidente do centro do tabuleiro político nacional.
A decisão do ministro Alexandre de Moraes, proferida na sexta-feira (18), pegou aliados de surpresa e desencadeou uma série de reuniões emergenciais no Partido Liberal, que agora discute como conduzir a sucessão para 2026 em meio a uma crise interna e ao isolamento progressivo de Bolsonaro.
"Essa tornozeleira é uma prisão política simbólica", disse um interlocutor próximo do ex-presidente, que classificou a medida como uma tentativa de desmoralização pública.
A tornozeleira acabou tendo um efeito colateral inesperado: reunificou temporariamente setores do bolsonarismo, que vinham em atrito desde o início da semana com a repercussão negativa da sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump a produtos brasileiros. A atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, defendendo sanções contra o Brasil, havia dividido a base — e fragilizado a estratégia do grupo.
Agora, a nova onda de solidariedade a Jair Bolsonaro fortalece o discurso de perseguição política. O próprio ex-presidente declarou em entrevista que, sem ele, "Lula vence qualquer um" em 2026 — ainda que já esteja inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Apesar disso, cresce nos bastidores o reconhecimento de que Bolsonaro dificilmente será candidato. Esse vácuo de liderança amplia a disputa interna pela sucessão.
Entre os aliados mais próximos, surgem três possibilidades para a linha de sucessão:
Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP): visto como o nome mais viável eleitoralmente, é considerado herdeiro político natural, mas enfrenta resistência de alas mais radicais do PL.
Ronaldo Caiado (União-GO): alternativa de composição com o centro-direita, agrada setores do agronegócio e do eleitorado conservador.
Eduardo Bolsonaro (PL-SP): fala abertamente em disputar a presidência, caso o pai o deseje. No entanto, está nos Estados Unidos e é alvo de inquérito no STF por coação ao tribunal.
A ideia de formar uma chapa com um filho de Bolsonaro e um governador de direita também circula como plano B — mas a própria família evita tratar do assunto com o ex-presidente, temendo agravar seu estado emocional.
Aliados lembram que, após a derrota em 2022, Bolsonaro enfrentou episódios de depressão e que sua saúde física e psicológica é motivo de preocupação interna.
Na decisão que impôs as restrições, Moraes citou indícios de tentativa de fuga, incluindo o apreensão de US$ 14 mil e R$ 8 mil em espécie na casa do ex-presidente. Bolsonaro nega a intenção de deixar o país, e tem reforçado, inclusive para aliados, que ficará no Brasil para liderar um “enfrentamento político”.
O ministro também proibiu contato direto entre Jair e Eduardo Bolsonaro, além de proibir o ex-presidente de se aproximar de embaixadas e autoridades estrangeiras.
Para o STF e a PGR, há uma "atuação coordenada" entre pai e filho para pressionar o Judiciário brasileiro por meio de influência internacional, o que caracteriza possível atentado à soberania nacional.
A decisão do STF também abalou o centro político. Lideranças do centrão manifestaram, nos bastidores, perplexidade com a gravidade da situação e têm evitado declarações públicas. A ordem entre parlamentares é agir com cautela e não se alinhar nem com o governo nem com a oposição radical neste momento.
“É preciso baixar a temperatura antes que o impasse institucional se agrave”, afirmou um líder partidário sob reserva.
Mesmo proibido de usar redes sociais, Bolsonaro multiplicou entrevistas na sexta-feira (18), falando com veículos nacionais e internacionais. A avaliação interna é de que a exposição midiática reforça sua imagem de mártir e aumenta seu poder de transferência de votos, o que será crucial para a escolha do sucessor.
“Com essa decisão, Bolsonaro termina a semana mais forte politicamente do que começou. Ele volta a pautar o noticiário e a mobilizar sua base”, avaliou um dirigente do PL.
A definição sobre 2026, no entanto, segue sem consenso — o único ponto em comum entre aliados é que Bolsonaro continuará sendo o grande eleitor da direita.
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